sábado, fevereiro 14, 2004

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CASTRO VERDE

Porque a maioria dos frequentadores da Casa das Primas são oriundos das regiões de Castro Verde e Almodôvar , e apenas eu (o Júlio) ser de Lisboa, embora hoje em dia, e após mais de 35 anos de ligação estreita com bons alentejanos, já me sinta, não só da família, mas também mesmo ,mais um "alentejano", vou publicar neste blog, alguns textos sobre estas vilas e regiões.
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...A antiga vila surgiu junto a uma fortaleza que se levantou no cimo de um cabeço a 1,7 Km a norte da margem esquerda da Ribeira de Cobres e a 2 Km a Sudoeste da margem direita do Ribeiro de Terges.

A sua fundação é muito remota, desconhecendo-se a sua origem, sabe-se no entanto, que no começo da monarquia Lusitana já era habitada.

Pensa-se que a origem do povoado terá as suas raízes na cultura Turdetana, passando mais tarde por um acampamento militar romano, como a origem do seu topónimo " Castrum Veteris " assim o indica, bem como a planta do núcleo antigo da povoação, de forma quadrangular e com um traçado viário ortogonal, típico dos acampamentos romanos, diferencia-se da tradição hurbanistica do Sul do território nacional.




A implantação do território sobre uma pendente pouco acentuada, terminando junto a uma linha de água de certa expressão, bem como a dimensão da àrea ocupada, enquadrando-se na descrição dos acampamentos militares.

Crê-se que a vida urbana se iniciou em Castro Verde após o abandono do acampamento pela legião, como era práctica corrente na época, uma parte considerável da população que habitava as "canabae" (acampamentos de pequenos comerciantes, artíficies, etc, que acompanhavam as legiões), bem como indígenas da região, tenham ocupado o "Pomerium" (acampamento romano), imediatamente após o abandono da construção defensiva pela legião.

Acredita-se, que a rede viária hurbana se manteve e as edificações se foram desenvolvendo ao longo de todo o período clássico e de Idade Média.

É também possível que os Romanos tivessem conquistado a fortaleza Lusitana em meados do Séc. II A.C. (cerca de 150 anos antes de Cristo), transformando-a numa base militar de ocupação e guarda da estrada militar que, vinda de Aljustrel, prosseguia para Ossobona (perto de Faro).

Desconhece-se a data em que foi tomada aos Mouros.

Foi em CastroVerde e segundo a lenda que se deu a famosa batalha de Ourique, apontando vários historiadores o local de São Pedro das Cabeças como o local exacto desse acontecimento, lenda essa que descreve a aparição de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques e a sua gloriosa vitória contra cinco reis Mouros.

A região de Castro Verde enquadra-se, desde o Período do Bronze do Sudoeste (II milénio A.C.), numa àrea cultural vasta que se designa por cultura Turdetana.

Durante a Proto-História, na primeira Idade do Ferro,e numa fase em que os contactos com povos do mediterrâneo foram assíduos e próximos, que se designa por Período Orientalizante, o Baixo Alentejo e o Algarve desenvolveram uma subcultura especial (dentro de Turdetana) comumente chamada Tartéssica ou de Sudoeste.

A primeira Idade do Ferro e o Período Orientalizante, permitiram definir uma facies local, que foi designada por Neves Corvo e que se caracteriza, principalmente, por rituais funerários próprios, para além da aplicação da escrita a fins não relacionados com o culto dos mortos, bem como pela existência de povoados e habitats de tipo patriarcal alargado, sem vestígios de estroturas defensivas.

A existêmcia desta facies no concelho de Castro Verde, relaciona-se com a presença de minérios, nomeadamente a prata e o chumbo, em ocorrências filonianas superficiais, o que os colocava ao alcance da tecnologia extractiva da época.

Existem no concelho de Castro Verde alguns Castros (designação para os castelos da segunda idade do ferro, na gíria arqueológica), como é o exemplo do Castro do Montel (Castelo Grande de Cobres), que fica situado na freguesia de Entradas.

O concelho de Castro Verde revelou materiais arqueológicos de origem romana, datando dos finais do séc. III, inicios do séc. II A.C.

Foram identificados 22 monumentos de fundação Augusteia que pontuam uma faixa que se estende de Castro Verde ao sul de Alcoutim. A tradição popular chama-lhes "Castelos", porque são constituidos por três recintos quadrangulares concêntricos, que ocupam o topo de pequenas colinas, o seu edificio central é sempre dotado de paredes muito espessas que lembram de facto muralhas.

A dominação romana está amplamente documentada na aldeia de Santa Bárbara de padrões, através de um conjunto arquitectónico descoberto junto da igreja e cemitério e por numerosos vestígios que se espalham por toda a povoação.Leite de Vasconcelos propôs, em 1986,a classificação destas ruínas, como de uma cidade romana que se identificou hipotéticamente, com Arannis.

Até ao século XIX o progresso económico de Castro Verde basear-se-ía não tanto na agricultura devido aos seus solos fracos, mas na pecuária e no facto de ser local privilegiado de passagem e cruzamento de vias comerciais que do sul algarvio conduziam à planície alentejana e que do litoral Oeste, devido à importância de Vila Nova de Milfontes como porto de pesca e comércio, demandavam o interior e a sua capital, Beja.

No século XIX, o Liberalismo teve mais um reflexo no concelho. Com efeito, a região sofreu incursões das guerrilhas miguelistas do Remexido e dos Baioas de Beja, que ficaram registados na tradição popular e nalguma toponímia.

Nos finais do século XIX, a cerealícultura tornou-se um dos maiores factores produtivos da região, tendo mesmo sido reforçada esta opção, nos primeiros decénios do século XIX, durante os quais se assistiu a um certo bem estar económico, que se reflectiu no hurbanismo da sede do concelho, tanto no edificio da Câmara Municipal como em residências privadas.

A partir dos anos 50, o concelho entrou em fraca regressão, um pouco colmatada pelo surto migratório, e actualmente, pela instalação do complexo mineiro de Neves- Corvo.

Castro Verde, experimentou, por via da Mina , um grande aumento de perimetro, e de construção, nunca , porém se descaracterizando, É mesmo, hoje por hoje, das vilas mais bonitas e com melhor qualidade de vida do Baixo Alentejo.

A sua vida cultural sofreu, também ele, um grande incremento, quer com infra-estruturas , quer com inúmeras iniciativas voluntristas de castrenses que não se acomodam.