sexta-feira, abril 29, 2005

imagens do alentejo

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VISTA DA VILA COM O CASTELO AO FUNDO
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Mourão é onde vivem a Augustinha, o Zé Carlos e o filho Zé Duarte.

N.º Habitantes: 3.196
Área: 278,5 Km2
Freguesias: 3

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Acessos Rodoviários: LISBOA 188 Km PORTO 483 Km FARO 257 Km

Do Porto utilize a A1 até Lisboa. De Lisboa utilize a A2 (ponte 25 de Abril) ou a A12 (ponte Vasco da Gama), continue pela A2 até Marateca, siga pela A6 até Évora, daí siga pela N18 e pela N256 para Mourão. De Faro utilize a Via do Infante, depois a A2 até Ourique e o IP2 em direcção a Évora, seguindo pela N256 até Mourão. E boa viagem...

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A fundação da actual vila de Mourão deve-se aos árabes, que no século IX construíram as primeiras fortificações, dando-lhe o nome de Mogron.
Cercada por D. Afonso Henriques em 1166, a vila foi abandonada pelos árabes, tendo ficado deserta até 1226, ano em que D. Gonçalo Egas, prior da Ordem do Hospital e subordinado do rei de Castela, a povoa, atribuindo-lhe carta de foral para que as populações ai se fixassem.
O concelho passa a integrar o reino português por doação de D. Afonso X de Castela à sua filha D. Beatriz de Gusmão, casada com D. Afonso III.
Em Janeiro de 1296 D. Dinis confirma a carta de foral a Mourão.
A agricultura em Mourão é essencialmente de base familiar e a exploração da propriedade condicionada pela capacidade de trabalho do agregado.

VISTA DA VILA DAS AMEIAS DO CASTELO
Do património histórico fazemos destaque aos seguintes monumentos: o castelo de Mourão, a igreja Matriz de N. Sr.ª das Candeias, a igreja de S. Francisco, a igreja da Sta. Casa da Misericórdia, a ermida de N. Sr.ª dos Remédios, a ermida de S. Bento, os Paços do Concelho, o convento de N. Sr.ª do Alcance, a igreja de São Braz e o castelo da Lousa.

Concelho de gastronomia tipicamente alentejana, o pão, o tomate, a carne de porco e o borrego são os principais intervenientes.

As festividades do concelho são as seguintes: a festa da Sr.ª das Candeias, a 2 de Fevereiro, a festa de S. Sebastião, a 20 de Janeiro, a romaria de S. Pedro, na segunda-feira de Páscoa e a feira do Gado, a14 de Setembro.

Com pouca expressão económica mas de grande qualidade artística, registam-se a cestaria e a criação de esteiras, na freguesia da Granja, a produção de rendas e bordados, disseminada um pouco por todo o concelho, e a confecção de artigos de pele e curtumes.
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A ESCOLA DA GRANJA (UMA DAS 3 FREGUESIAS DE MOURÃO) ONDE A AUGUSTINHA E O ZÉ CARLOS DÃO AULAS

quinta-feira, abril 28, 2005

AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU, de ARY DOS SANTOS

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Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.


Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

«As Portas que Abril Abriu«
José Carlos Ary dos Santos

.Oriundo de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937.

Aos catorze anos, a sua família publica-lhe alguns poemas, considerados maus pelo poeta. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.

É então que Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para seu sustento económico, que passariam desde a venda de máquinas para pastilhas até à publicidade. Contudo, paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se -ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas " A Liturgia do Sangue".





Em 1969, ano que o próprio Ary dos Santos considerava ter marcado decisivamente a sua vida, inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido".

Entretanto, concorre, sob pseudónimo, ao Festival da Canção da RTP com os poemas "Desfolhada"e "Tourada", obtendo os primeiros prémios. É aliás através deste campo –o da música que o poeta melhor se tornaria conhecido entre o grande público.

Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira.

À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada.

O poeta deixou-nos a 18 de Janeiro de 1984. Postumamente, o seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida.
Também aqui no Feijó, foi daso o seu nome a uma rua, no chamado Cinza-parque.

Ainda em 1984, foi lançada a obra VIII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro.

terça-feira, abril 26, 2005

poemas e poetas alentejanos -FLORBELA ESPANCA

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FLORBELA ESPANCA
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Escreve-Me ...

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Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894.

Filha ilegítima de uma "criada de servir" falecida muito nova, alegadamente de "nevrose", foi registada como filha de pai incógnito, marca social ignominiosa que haveria de a marcar profundamente, apesar de curiosamente ter sido educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se ainda que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa a perfilhou, por altura da inauguração do seu busto em Évora, debaixo de cerrada insistência de um grupo de florbelianos.

Estudou em Évora, onde concluiu o curso dos liceus em 1917. Mais tarde vai estudar para Lisboa, frequentando a Faculdade de Direito. Colaborou no Notícias de Évora e, embora esporádicamente, na Seara Nova. Foi, com Irene Lisboa, percursora do movimento de emancipação da mulher.

Os seus três casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas em geral e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem a ligavam fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra.

Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos. O seu suicídio foi socialmente manipulado e, oficialmente, apresentada como causa da morte, um «edema pulmonar».

Com a sua personalidade de uma riqueza interior excepcional, escreveu os seus versos com uma perturbação ardente, revelando um erotismo feminino transcendido, pondo a nu a intimidade da mulher, dando novos rumos à consciência literária nascida de vivências femininas.

A sua Poesia é de uma imensa intensidade lírica e profundo erotismo. Cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina sem que alguns críticos não deixem de lhe encontrar, por isso mesmo, um "dom-joanismo no feminino

Com a sua personalidade de uma riqueza interior excepcional, escreveu os seus versos com uma perturbação ardente, revelando um erotismo feminino transcendido, pondo a nu a intimidade da mulher, dando novos rumos à consciência literária nascida de vivências femininas.

A sua Poesia é de uma imensa intensidade lírica e profundo erotismo. Cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina sem que alguns críticos não deixem de lhe encontrar, por isso mesmo, um "dom-joanismo no feminino".

Eu quero amar,
amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele,
o Outro e toda a gente...
Amar! Amar!
E não amar ninguém

O sofrimento, a solidão, o desencanto, aliados a imensa ternura e a um desejo de
felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito, constituem a temática veiculada pela veemência passional da sua linguagem. Transbordando a convulsão interior da poetisa pela natureza, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas.

Florbela Espanca não se liga claramente a qualquer movimento literário. Próxima do
neo-romantismo de fim-de-século, pelo carácter confessional e sentimentalista da sua obra, segue a poética de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, pode considerar-se influência de Antero de Quental e de Camões.

segunda-feira, abril 25, 2005

AS CAMPONESAS

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"AS CAMPONESAS" de Castro Verde
de
JOSÉ FRANCISCO COLAÇO GUERREIRO
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Quando fizeram o seu primeiro ensaio, dificilmente podiamos imaginar que o seu “atrevimento” lhes possibilitasse romper preconceitos antigos e a sua resistência, às adversidades do tempo e das falas, conseguisse abrir o espaço necessário para o sonho vingar.
Até então, o cante colectivo em feminino só tivera lugar no campo, no trabalho e nas lidas, onde lhes era permitido e naturalmente aceite, expressarem, ao lado dos homens, a sua sensibilidade e o seu apego cultural à moda. Quando acabaram os trabalhos agrícolas que podiam absorver numa só herdade muitas dezenas de assalariados, em mondas, nas ceifas, na apanha da azeitona e do grão, as mulheres remeteram-se à execução das tarefas caseiras, faltou-lhes lugar na produção, isolaram-se e perderam a oportunidade de continuar a cantar em coro. Pouco a pouco, da memória varreram-se as suas vozes e o seu silencio ganhou foros de costume. Durante tempos assim foi.
Hoje, passados que são já dezanove anos sobre o surgimento venturoso das “Camponesas” e habituados que estamos a ver vários outros coros femininos pontuando de palco em palco e cadenciando de desfile em desfile, não causa mais espanto, nem provoca engulhos ou resistência, aceitar de novo, como natural o canto das mulheres .
Foi assim reposta a verdade, a justiça e a normalidade no cantar da moda.
As “Camponesas” com a sua tenacidade , puseram de pé um projecto cultural que constitui uma dádiva , empenhada e aprofundada , de “Modas Alentejanas" que elas interpretam com uma devoção enorme, nascida da certeza de que assim estão a contribuir para que se avive a nossa memória colectiva e não se restrinja a nossa trajectória vocal ao “canto às vozes” em masculino , deixando-se à mercê do esquecimento uma grande parte da nossa riqueza cultural que também reside no imaginário e na arte das nossas mulheres.
Lembramo-nos ,por exemplo, dos “Mastros” cujas origens julgamos remontarem à época dos descobrimentos, se atentarmos no simbolismo dos seus adereços e enfeites, os bailes de roda dantes feitos “em pagamento de promessas” e agora organizados como marcadores da tradição, por ocasião dos Santos Populares.
Vincando a natureza específica deste cantar informal, "As Camponesas" fizeram regressar à lembrança outros cantes e outras tradições vocais perdidas.
Tiveram assim o condão de trazer à tona do nosso imaginário, com o cunho autentico que as caracteriza, a interpretação de modas de baile de roda que constitui um interessante repositório do nosso cante tradicional . Persistem cantando exemplos de beleza e de grande rigor etno-musical, modas às quais elas emprestam a beleza das suas vozes e o timbre das suas vivências como mulheres e como pioneiras do ressurgir do cante em feminino.
Importa ainda agora sublinhar a entrega imensa que "As Camponesas" fizeram desde logo ao projecto de Grupo,o qual , em si mesmo, implicava uma ruptura com um estar anterior,já sedimentado,feito costume que afastava as mulheres da vida cultural colectiva feita de acções e praticas publicas.Foi necessária uma coragem imensa para romper com as amarras ,para ultrapassar as vergonhas,para vencer os medos. E eram os maridos,bem habituados à mesa posta em horas rigorosas,e eram os filhos presos aos cadilhos,e eram os netos delas dependentes, todos incomodados com a atitude nova daquelas mulheres, por passarem a serem donas de alguns tempos livres.
Foi assim ha quase vinte anos, quando tudo era mais custoso.
Todavia, muitas foram as vozes boas, os cantares bonitos que não se chegaram a ouvir ou logo se calaram, porque a liberdade ainda não desabrochou o bastante para permitir que as mulheres desta terra cantem em grupo.
Ainda assim é. Não raro vemos, tantas vezes sentimos, os olhares tristonhos de mulheres impedidas de fruir o prazer de juntarem a sua voz ao coro, de sairem para fora, cantarem em palcos, participarem em iniciativas longe de suas casas, despontarem elas mesmas sem as peias da observação tutelar dos maridos.
Mas aquelas que insistiram, que venceram e agora se afirmam como protagonistas da arte do cante, porta-vozes da defesa dos valores mais profundos da nossa memória etno-musical, sentem-se compensadas, libertas, diferentes e também indiferentes ao falatório que as linguas viperinas impiedosamente provocavam. Não podemos esquecer o desabafo de uma "Camponesa" septuagenária que em geito de confissão uma vez nos disse: "que me interessa que falem ...o mal delas é inveja de não terem homens iguais aos nossos que nos deixam cantar...eu cá por mim...hei-de continuar a vir até que possa...mesmo que esteja em casa com dôr de cabeça...venho para o ensaio ... ao fim de um pouco estou mais aliviada". E depois... acrescentou: "e a pena que eu tenho é ter a duração quase acabada..." e quando o disse, virou a cara para o lado para esconder as lágrimas que brotavam sentidas, grandes, desprendidas da alma, donde também nascem as "modas" que as "Camponesas" cantam.

quinta-feira, abril 21, 2005

letras de modas alentejanas

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CEIFEIRA LINDA CEIFEIRA



O Sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce
Ai de nós o que seria
Se o Sol um dia faltasse

Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira!
Eu hei-de,
Eu hei-de casar contigo!
Lá nos cam ...
Lá nos campos, secos campos
Lá nos campos, secos campos,
À calma
À calma a ceifar o trigo,
Pela fo ...
Pela força do calor!
Ceifeira!
Ceifeira, linda ceifeira
Ceifeira, linda ceifeira,
Hás-de ser o meu amor!

Não é,
Não é a ceifa que mata,
Nem os ca ...
Nem os calores do “V’rão”!
É a é ...
É a erva unha-gata,
É a erva unha-gata,
Mais o cardo beija-mão!

Ceifeira!
Ceifeira, ó linda ceifeira
Eu hei-de casar contigo
Etc.



 

imagens do alentejo

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ENTRADAS é uma das mais bonitas da região. O nome desta vila deve-se ao seguinte facto: em tempos idos, a paisagem da região era densamente arborizada e as pastagens da região (os "pastos dos Campos de Ourique") mantinham-se verdes todo o ano. Em consequência, os rebanhos do Centro e Sul de Portugal vinham em transumância a estas paragens de todo o país, de tal modo que se pagava uma taxa de entrada para os "pastos dos Campos de Ourique". Um dos locais onde se pagava esta taxa situava-se em Entradas, nome que terá sido atribuído por D. Sebastião.

Na Igreja Matriz de Entradas, do séc. XVIII (fig. 18), pode ser encontrado um belo altar-mor em mármore preto e branco, tido como o mais valioso da diocese de Beja. A tradição oral explica desta forma a sua origem: sendo destinado originalmente para Faro (talvez para a Sé), as pedras, já desbastadas e aparelhadas, vinham da pedreira de Estremoz e eram transportadas em carros de bois. Estes carros foram surpreendidos por um longo e rigoroso Inverno, em que pessoas e animais tiveram muita dificuldade em passar regatos e rios de grande caudal. Como resultado, estas pessoas desistiram de efectuar o transporte até ao Algarve, abandonando a carga nos campos junto a Entradas. Assim, o altar acabou por ficar na Igreja, dedicada a Santiago.

Um pouco à frente da Matriz, encontra-se a Igreja da Misericórdia. Construída nos sécs. XVII e XVIII, possui no seu interior alguns azulejos setecentistas hispano-árabes.

A estepe cerealífera é o palco de todo o percurso, podendo ser observadas várias espécies de aves estepárias.

Na vila de Entradas existem vários cafés e restaurantes típicos, onde se pode recarregar energias no final do percurso.

quinta-feira, abril 14, 2005

POESIA POPULAR

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Já aqui falei dos bailes expontâneos e da potencialidade fantástica que as gentes da planície têm para o versejo.
Estas quadras são o exemplo de muitas que se ouviam no calôr do bailar:
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MINHA MÃE PRA EU CASAR
PROMETEU-ME 3 OVELHAS
UMA É MÔCA , OUTRA É CEGA
OUTRA É TRONCHA DAS ORELHAS
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MINHA MÃE PRA EU CASAR
DEU-ME TUDO QUANTO TINHA
DEPOIS DE ME VÊR CASADA
DEU-ME UMA AGULHA SEM LINHA

sábado, abril 09, 2005

DANÇAS CAMPANIÇAS

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DANÇAS CAMPANIÇAS

JOSÉ FRANCISCO COLAÇO GUERREIRO

Os novos nem sonham e os mais velhos só lembram que aqui ,na terra da quietude, as gentes bailavam. A toque de viola, flaita ,concertina ou movidos simplesmente pelo cante, os pares marcavam os ritmos do fascínio e da paixão , em danças que se repetiam noite fora.

Bailes cantados, exercícios vocais e poéticos que aliavam a melodia e a rima ao toque carnal tão desejado.

Namoros que se faziam e se desmanchavam à custa de uma cantiga, por mor de uma resposta.

Vinha também à tona a malandrice de alguns , misturada às vezes com o arrojo que aos forasteiros não era permitido:

Um copinho, dois copinhos,
Tres copinhos de aguardente
As moças desta terra
Fazem andar um homem quente



Para atalhar, logo no flagrante, algum pai, mano ou namorado incomodado ,também cantando e rimando respondeu:

Um copinho, dois copinhos,
Três copinhos de licor
Levas com um banco nos cornos
Passa-te logo o calor.


Nas casas dos montes ,para a vizinhança, ou nos celeiros das aldeias para adjuntos maiores, dançava-se sempre, dançava-se muito, ao uso da moda .Bailes de roda, bailes encadeados ,baile dos arquinhos ,todos eram tradição arreigada entre as gentes campaniças que faziam destas práticas o modo primeiro da sua distracção. Quem cantar sabia, tinha primazia ,porque fazia figura nesses balhos onde a voz e a poesia eram a mola real do evento.

Dum lado os homens, doutra banda as mulheres, com as mães atentas. Nas paredes penduravam-se as candeias e mais tarde os candeeiros para alumiar. Tal dia ,às tantas, há baile às tensas de qualquer coisa e fulano já ofereceu o petróleo, anunciava-se de boca em boca.

Dada a ordem para a dança ,uns fitando nelas, outros de cabeça baixa, avançavam para as escolhidas perguntando: Vamos abatê-las?

E quase sempre respondiam: Abatê-las vamos! Lá davam as mãos. Lá se agarravam. Toques que valiam por mil sonhos.

De inverno os homens dançavam de capote vestido e cajado pendurado no braço, preparados para as cenas piores que podiam derivar do ciúme ou de alguma alarvidade.

Uns tinham sorte, outros ,como agora, calhava-lhes sempre a mais feia para a dança.

Noites à fio, depois dos trabalhos, retemperavam-se forças à custa do viço.

Voltas e mais voltas ,no chão de terra batida ,no verão juncado de mantrastos e junça que mesmo assim , não evitavam o pó que se levantava fininho e ao misturar-se com a fuligem das iluminarias, ia colar-se nos rostos suados dos dançarinos.

Cantiga atras de cantiga, desafios de namoros e invejas, trocas de razões sempre rimadas, voltas e passos marcados, eram os ingredientes de saborosas noites dançantes.

Mas agora ,nesta terra só se canta a moda, pensa-se que nunca foi doutro jeito ,não há memória de outros cantares e danças, por aqui, ninguém se lembra delas.

O resto do país , folclorizou e guardou parte da sua tradição. Nós, vimos tudo reduzido ao cante interpretado pelos grupos formais. O resto apagou-se, por culpa nossa e da política estranguladora do SNI. Valha-nos agora a memória e a vontade de quantos não se acomodam nem conformam com este cenário de desolação cultural e vão experimentando, em vários lugares ,o reinventar das danças e de outras praticas da tradição.

letras de modas alentejanas

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É TÃO GRANDE O ALENTEJO
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É TÃO GRANDE O ALENTEJO



Daqui para a minha terra
Tudo é caminho e chão
Tudo são cravos e rosas
Tudo são cravos e rosas
Dispostos por minhas mãos

É tão grande o Alentejo
Tanta terra abandonada
A terra é que dá o pão
Para bem desta nação
Devia ser cultivada
Tem sido sempre esquecido
Da margem ao sul do Tejo
Há gente desempregada
Tanta terra abandonada
É tão grande o Alentejo

Nesses campos solitários
Onde a desgraça me tem
Brado ninguém me responde
Olho, não vejo ninguém

É tão grande o Alentejo
Tanta terra abandonada
A terra é que dá o pão
Para bem desta nação
Devia ser cultivada

terça-feira, abril 05, 2005

provérbios de ABRIL

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Previsão Agícola :

- A aveia, até Abril, está a dormir.
- Do grão te sei contar que em abril não há-de estar nado nem por semear.
- Em Abril lavra as altas, mesmo com água pelo machil.
- O que Abril deixa nado, Maio deixa-o espigado.

Animais:

- Porco que nasce em Abril vai ao chambaril.

Pesca:

- Solho de Abril, abre a mão e deixa-o ir.

Frio:

- Abril frio, pão e vinho.
- Em Abril, queima a velha o carro e o carril; e uma camba que deixou, em Maio a queimou.
- Guarda pão para Maio e lenha para Abril.

Chuva:

- Abril chove para os homens e mais para as bestas.
- Abril frio e molhado enche o celeiro e farta o gado.
- A ti chova todo o ano e a mim Abril e Maio.
- Inverno de Março e seca de Abril deixam o lavrador a pedir.
- Em Abril, águas mil.
- A água que no verão há-de regar em Abril há-de ficar.
- Chuvas na Ascensão, das palhinhas fazem pão.
- Uma água de Maio e três de Abril valem por mil.

Vinho:

- Vinha que rebenta em Abril dá pouco vinho para o barril.

Páscoa:

- Páscoas altas, Páscoas baixas, em Abril hão-de cair.
- Páscoa em Março, ou muita fome ou muito mortaço.

segunda-feira, abril 04, 2005

PÁSCOA NO ALENTEJO

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O MIGUEL ESTEVE NO MONTE DA RIBEIRA

E ficou encantado especialmente com os animais que só conhecia dos livros.
Os perús , as vacas , as ovelhas, as cabras, tudo o fascinou. Percorreu kms atrás deles, imitando os sons, especialmente os "més"...

sexta-feira, abril 01, 2005

imagens do alentejo

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CORTE ZORRINHO