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poemas populares
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SEMPRE QUE NOS JUNTAMOS NO MONTE DA RIBEIRA
SURGEM MAIS RECORDAÇÕES, MAIS RECOLHAS DO
VASTO REPERTÓRIO DE POEMAS E ESTÓRIAS DO
ANTÓNIO.
Desta vez, e no decorrer do almoço de que já aqui dei notícia, o António lembrou um poema popular, feito nos anos 50, que contava a história dum homem de Loulé que se tornou ermita e foi a Fátima a pé:
Manuel Viegas dos Santos
os martírios foram tantos
diz assim aos seres humanos
este retrato é o meu
o que este corpo sofreu
durante uns oito anos
Eu amo a religião
por isso mesmo então
desloquei-me de Loulé
a minha crença era tanta
para vêr aquela santa
eu fui a Fátima a pé
Quando eu depois regressei
coisaas na vida encontrei
que não eram do meu gôsto
achei triste o meu vivêr
passei então a sofrer
e a entregar-me ao desgosto
Passei a ser como um bicho
cheio de miséria e lixo
pelas tocas a dormir
a minha fome foi tanta
nem o calôr duma manta
eu mais voltei a sentir
Com as carnes quase nuas
só comi comidas cruas
nenhuma comida quente
eu não queria vêr ninguém
ninguém me fazia bem
fugia de toda a gente
Eu tinha medo sem fim
outros tinham medo de mim
da minha triste figura
mas hoje bem vestido e lavado
hoje estou agasalhado
findou a minha amargura
Quando as barbas me raparam
os cabelos me cortaram
tive um desgosto medonho
hoje estou agasalhado
bem vestido e lavado
para mim parece um sonho