domingo, março 06, 2022

POEMA DE ANTÓNIO COLAÇO 2006

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poemas populares

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SEMPRE QUE NOS JUNTAMOS NO MONTE DA RIBEIRA

SURGEM MAIS RECORDAÇÕES, MAIS RECOLHAS DO

VASTO REPERTÓRIO DE POEMAS E ESTÓRIAS DO

ANTÓNIO.


Desta vez, e no decorrer do almoço de que já aqui dei notícia, o António lembrou um poema popular, feito nos anos 50, que contava a história dum homem de Loulé que se tornou ermita e foi a Fátima a pé:


Manuel Viegas dos Santos

os martírios foram tantos

diz assim aos seres humanos

este retrato é o meu

o que este corpo sofreu

durante uns oito anos


Eu amo a religião

por isso mesmo então

desloquei-me de Loulé

a minha crença era tanta

para vêr aquela santa

eu fui a Fátima a pé


Quando eu depois regressei

coisaas na vida encontrei

que não eram do meu gôsto

achei triste o meu vivêr

passei então a sofrer

e a entregar-me ao desgosto


Passei a ser como um bicho

cheio de miséria e lixo

pelas tocas a dormir

a minha fome foi tanta

nem o calôr duma manta

eu mais voltei a sentir


Com as carnes quase nuas

só comi comidas cruas

nenhuma comida quente

eu não queria vêr ninguém

ninguém me fazia bem

fugia de toda a gente


Eu tinha medo sem fim

outros tinham medo de mim

da minha triste figura

mas hoje bem vestido e lavado

hoje estou agasalhado

findou a minha amargura


Quando as barbas me raparam

os cabelos me cortaram

tive um desgosto medonho

hoje estou agasalhado

bem vestido e lavado

para mim parece um sonho