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Quando eu ia para a Semblana
vi um vulto na fronteira
enganei-me que era falso
saíu-me uma travisqueira
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Pulei leve que nem gato
pr.a cima duma azinheira
lá passei a noite inteira
vendendo cerol barato
capaz de alagar a beira
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Ó besta de raça do diabo
que eu não sei onde me tenho
que não te acolha o rabo
pra fazer um cedenho.
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Tanta passada que dei
à busca sem te achar
e abalei pró Carrascal
que era a minha obrigação
carregando sacos todo o dia
e não comia ração.
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O maroto do aguadeiro
que até lhe chamam brejeiro
pôs comigo num lameiro
que ia sendo uma desgraça
e se alguém por lá passa
quando eu me estava erguendo
o que havia de ir dizendo
sempre são bestas de má raça.
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Levem-me prá arramada
dá-me uma mão cheia de folha
uma fina e outra grossa
mais das vezes não é nada
pr.a cima lá vai varada
e o burro do diacho não come
se o sustento é a pancada
façam lá isso a um homem.
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Poema do Tio ANTÓNIO JESUÍNA