sexta-feira, janeiro 20, 2006

mertola

..

VISTA LINDISSIMA DE MÉRTOLA
.
A LENDA DE MERTOLA
.
...Foi há muitos muitos anos... Um povo de navegadores e comerciantes (fenícios) que tinham as suas cidades estado e os seus deuses e artes lá para o outro lado do Mediterrâneo, perto da Grécia e do Egipto, decidiram sair daquele que para eles era o grande mar, para se aventurarem pelo outro mar imenso que se abria para além do ROCHEDO [ALUBE para os fenícios ESTREITO DE HÉRCULES ou as COLUNAS DE HÉRCULES para os gregos - Foi Hércules que ergueu ali as duas Colunas - GALPE e ABILA (Ceuta), quando separou a Europa da África...] imponente que servia de PORTA de saída para o desconhecido... a partir do qual não se podia ir mais além... Era a PONTA do mundo conhecido de então... a ponta do que agora conhecemos como a EUROPA... a quinze quilómetros do outro Continente, a Àfrica... Já se tinham arriscado várias vezes até ao MONS SACRUS (Sagres), e pela Costa Africana abaixo, sempre à vista de Terra, mas não se podiam atrever a ir mais além para o desconhecido imenso, que era só território dos deuses e abismo donde se não poderia voltar...

Foi então que desde uns 1000 anos a. C. um grupo mais arrojado de navegadores e comerciantes fenícios, pois é desse povo que falamos, decidiu aventurar-se mais para o interior... passaram o grande ROCHEDO da PORTA do GRNADE MAR, avançaram até ao MONS SACRUS, voltaram atrás e encontraram a foz de um grande rio que era o ANA... Subiram aproveitando a força das marés... Subiram até sentirem onde as marés os empurravam e pararam à vista daquele ESPORÃO ROCHOSO que se erguia ENTRE-AMBAS-AS-ÁGUAS...

Voltaram ali muitas vezes... Alguns ficavam e estabelecram contactos com os povos dispersos que por ali viviam pelos montes... Vendiam o que traziam e compravam os produtos que puco a pouco iam chegando àquele porto de rio que se foi formando e até apareceu minério e outras riquezas para comerciar...
Mas um dia as embarcações que chegaram eram mais numerosas e notava-se um tipo de agitação diferente daquele a que as pessoas das redondezas estavam habituadas... A chegada de barcos era sempre um acontecimento, mas daquela vez, além de serem mais, e a chegarem dia após dia ainda mais, vinham mais carregadas e traziam outro tipo de gente. Para além dos navegadores e comerciantes notavam-se outro tipo de gente que não estava habituada àquelas lides... era tambem gente de guerra, o que não era habitual, e outro tipo de gentes... Os habitantes das redondezas, habituados a lidar com aquela gente desde os avós dos avós ficaram perturbados...
Souberam então que uma das suas mais ricas cidades, a cidade de TIRO tinha sido conquistada pelo ainda jovem e ambicioso Alexandre, o Macedónio, que até tinha sido discípulo de Aristóteles, para quem a sede de conquista não tinha limites...

Agora ali, exilados da sua cidade, e não querendo viver submetidos a um povo estranho, um grupo daqueles homens entre os quais vinha POLÍPIO, um príncipe fenício, sonhou e decidiu que podiam ali fundar a sua NOVA TIRO... Também ele, como muitos outros ilustres fugitivos, tinham sido educados por sábios e filósofos gregos, que eram os depositários e difusores da cultura greco-latina, que era o padrão de cultura de todo o mundo mediterrânico, o mundo conhecido de então... Gente pacífica, mas sem descurar a guerra, foram bem aceites pelas gentes da região e logo fizeram aliança com um povo que vinha de além dos Pirineus à procura de Paz e da Abundância... Eram os Túrdulos que fugiam dos Celtas e do temível ROLARTE e eram chefiados por CÓFILAS, o rei querido do seu povo, que tudo fazia para lhes agradar, e mais ainda, para tudo fazer em favor da mais Bela entre as Belas a sua filha SERPÍNEA... E foi assim que nasceu SERPA, e logo a seguir a outra cidade, a NOVA TIRO que depois decidiram "chamar MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MÉRCÚRIO", como dizem lendas antigas... Alguns propuseram que se chamasse NÍOBE, por "aquele esporão rochoso" que se erguia na curva do rio lhes lembrar a lenda da filha de TÂNTALO, a orgulhosa rainha de TEBAS que, por ser mãe de sete valentes rapazes e de sete belas raparigas desafiou LETO, mãe de APOLO e de DIANA e assistiu à morte dos catrorze filhos executados sem piedade pelas flechas certeiras dos dois filhos ofendidos... Então, conta a lenda, "Níobe ficou muda de dor e espanto... só deixava correr as lágrimas de um inútil arrependimento... e os deuses condoídos permitiram que, a seu pedido, ficasse tranformada em pedra donde correm dois rios de lágrimas por toda a eternidade..." Ora Níobe, a orgulhosa filha do também insolente Tântalo, era irmã de PÉLOPS, aquele que fora servido aos deuses como manjar de afronta e que, uma vez regressado à vida por intervenção dos deuses que tinham condenado o pai ao suplício de viver para sempre ao lado da abundância sem a poder alcançar, veio por sua vez a assassinar MYRTILIS, o cocheiro de ENUMÃO, pai da princesa HIPODAMIA, por quem o ressuscitado se apaixonara, e que decidira trair o seu rei, serrando a rodas do carro para que Pélops pudesse ganhar a corrida e assim ser poupado à morte!!!

Sim, aquela cidade seria MYRTILIS, aquele que se sacrificou pelo seu assassino, irmão de Níobe, e pela sua princesa HIPODAMIA, e como prémio dos Deuses do Olimpo, brilha na Constelação de Cocheiro com uma luz especial... de protecção e conforto para os que a sabem ver e admirar...
Ela era filho de VÉNUS, a Deusa do amor e da Fertilidade, que tem o MIRTO como sua árvore sagrada, que o teve de MERCÚRIO, o HERMES dos gregos, Mensageiro dos Deuses, com asas nos pés, no chapéu e no seu bastão que era o Caduceu, ele próprio Deus dos Rebanhos, dos Pastores, dos Comerciantes e dos Ladrões,garante e sinal de uma prosperidade sem limites, que gostava de se refugiar em lugares ermos e secretos, como estes alcantilados e os Montes Hermínios (as Serras Nevadas de Hermes) donde, no tempo do frio e das neves geladas, vinham numerosos e enormes rebanhos dos mais variados gados...
Não. O nome de NÍOBE, traria, porventura, augúrios de desgraça e fatalidade, para uma nova cidade, que ali começava a nascer... e estava destinada a ter um grande futuro de grandeza e prosperidade... e agora se chama a NOBRE VILA DE MÉRTOLA...

Alumiada pela estrela MYRTILIS da constelação de COCHEIRO, o seu brilho, mesmo que muitas vezes escondido, nunca deixará de brilhar... e, como aconteceu. desde a sua fundação, MÉRTOLA, «nunca deixará de ser uma terra de passagem, onde não há familiar...» como dizia, em 1613, o pároco Vicente Afonso Lampreia, quando se oferece para comissário do Santo Ofício...

...nunca deixará de ser uma encruzilhada de povos, raças, comécios e culturas... como aconteceo em 1420, em que D. João I concede a Mértola o "estatuto de couto do homiziados"... como "homiziados" tinham sido os fenícios, que aqui decidiram construir a nova Tiro... e ...

...surpreendentemente, quando se tratou de aplicar o preceito introduzido pela Santa Casa de Lisboa, de 1598, de que, para administrar as Misericórdias, se dveriam «interditar o desempenho de funções e o estatuto de irmãos (da Confraria) a todos os que não fossem "limpos de sangue judeu ou mouro" por raça ou casamento»... "os limpos de nação"...preceito que se tentou aplicar, com exagero, em 1638... e que em 1642, foi objecto de uma petição feita pelos "moradores da vila" ao Rei D. João IV, «para que não fosse aplicável à misericórdia de Mértola a aplicação de tal cláusula... por a maoir parte da gente nobre e mais poderosa da terra «estar casada» com mulhers que tem tal rasa ou eles parte dela" e sempre, apesar disso "andaram sempre com armas na mão" «defendendo as fronteiras do reino»...

Decididamente, desde a sua fundação, MÉRTOLA está destinada a ser, por ventura, por vocação ou destino:
- «uma terra de passagem...
- «um couto de homiziados...
- «uma terra onde «os puros de nação» são nascidos de famílias onde se misturam raças, credos e culturas...
- onde haverá sempre lugar para os forasteiros que chegam decididos a contribuir para o desenvolvimento e prosperidade desta cidade Estado, um estatuto que tem pergaminhos com quase dois mil anos anteriores à nacionalidade, uma nacionalidade que, desde os Campos de Ourique, ainda não atingiu sequer os mil anos!!!...