sábado, janeiro 07, 2006

POEMAS DE DESPIQUE

..
o NOSSO BLOG VAI HOJE TANSCREVER UM EXERTO DO CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, - Por Ordem da Universidade, 1979
Talvez, por ser Mértola uma ligação entre Alentejo e Algarve, seja oportuno transcrever estas Décimas que teriam sido feitas por Marcelino Ramos, e que com outro companheiro as andava ele cantando por várias terras.)

Despique do Alentejo e do Algarve:

I
Alentejo
.
Sou o Alentejo opulento,
Tenho gado e cereias;
Algarve, quero saber
Qual de nós valerá mais.

1.
Sou na verdade crescido,
Que a todos meto cobiça;
Tenho montanhas de cortiça
Que a muitos têm enriquecido.
Tenho p’ra fora vendido
Cereais de valimento;
Tu, Algarve, toma tento
Em quem já te socorreu,
Porque tu sabes que eu
Sou o Alentejo opulento.

ALGARVE
1.
P’ra que te estás a abonar?
Que és muito rico eu bem sei,
Mas defeitos te porei
Que tu não hás-de gostar.
Eu tenho praias no mar,
Não acreditas talvez,
Que eu dou banho mais de um mês.
Sou o recreio do teu povo
E sou cheio como um ovo
Cá na minha pequenez

ALENTEJO

2.
Eu sou em tudo abundante:
Tenho muitas azinheiras,
Com a lande das sobreiras
Engordo gado bastante;
Tenho muito negociante,
Tenho muitos olivais,
Eu tenho de tudo mais
Do que tu ninca hás-de ter;
Contudo deves saber
Tenho gado e cereais.
.
ALGARVE
2.
És mui grande e muito forte,
Mas és pouco povoado,
És muito desabitado,
Só tens charnecas e mato.
Por isso tu toma tacto:
Se muito valor te dão,
Eu, por mim, digo que não
Na explicação que te faço.
Mas, em meu pequeno espaço
Sou todo uma povoação
.
ALENTEJO
3.
Eu tenho em mim celeiros
Cheios de trigo até mais não;
Sou abundante de pão
Tenho em mim muitos dinheiros.
Até os teus corticeiros
Ajudo-os bem a viver,
Dou-te tudo p´ra comer
Em toda a minha grandeza.
E qual é a tua riqueza?
Algarve, quero saber.

ALGARVE
.
3.
Se tu tens tanta valia
Como estás a apresentar,
P’ra que vens a mim buscar
P’ra ti tanta pescaria?
Não passa nem um só dia
Nem um sequer, com certeza,
Que eu não mande com franqueza
Peixe para a minha vizinha;
Não pescas nem uma sardinha,
Tu, com a tua grandeza
.
ALENTEJO
.
4.
Eu tenho muito toicinho
E o precioso presunto,
Eu tenho de tudo munto.
Sou a fama do bom vinho,
Sou da riqueza o beijinho,
Porque tenho coisas tais.
Até pessoas reais
Em mim têm arvoredo.