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A poesia de FRANCISCO GALRITO
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COM A DEVIDA VÉNIA A
UM GRANDE POETA PO-
PULAR ,O NOSSO BLOG
REPRODUZ UM POEMA DE
FRANCISCO GALRITO
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(Extraído do Volume III de "A verdade da Poesia)
Um ganhão dos anos 30,
que trabalha no campo
distante do Alentejo,
tem este desabafo:
MOTE
Por eu ser alentejano
já me chamaram ladrão
cousas que eu nunca chamei
a quem me tem roubado o pão
I
O Alentejo é um encanto
muita gente o reconhece
ele a todos oferece
o seu tão doce recanto
mas eu também adianto
muito homem desumano
me olha como um "marrano"
por deles não ser "aluno"
até me chamam gatuno
por eu ser alentejano
II
Alentejano não é vaidoso
é sempre um puro homem
até o pão que muitos comem
ele o produz orgulhoso
Mas eu fico desgostoso
e me sinto em aflição
quando ouço um palavrão
contra o que mais invejo
e por eu ser do alentejo
já me chamaram ladrão
III
Até parece mentira
eu ouvi tantas lôas
ditas por certas pessoas
que me provocam tanta ira
o que essa gente tem em mira
penso às vezes mas não sei
dados pr'a isso não lhes dei
mas querem-me armar a loisa
chamam-me a mim tanta coisa
coisas que eu nunca chamei
IV
Eu sou um trabalhador
que trabalho o ano inteiro
lavro a terra, sou ceifeiro
na Herdade dum senhor
todos os dias o meu suor
fica marcado no chão
nunca tive má acção
mesmo contra os que não amo
nem ladrão eu lhe chamo
a quem me tem roubado o pão
Poema de FRANCISCO GALRITO