segunda-feira, junho 18, 2007

SEMANA DE ALMODÔVAR NO FEIJÓ - ULTIMO ACTO

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CRÓNICA DO ULTIMO DIA

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O último dia da Semana de Almodôvar entre nós ,chegou, é já todos sentimos muitas saudades.
Sempre foram oito dias a matar saudades, uma semana em que nos víamos quase todos os dias, como se estivéssemos em Almodôvar, como se estivéssemos nos Alentejo.

O Concelho de Almada tem uma população a rondar as cento e setenta mil pessoas, e, de acordo com informação recolhida, 40% ,são alentejanos ou descendentes de segunda e terceira geração, de alentejanos.
É uma comunidade muito ligada às coisas da terra, e sempre que tem a mínima oportunidade de manifestar a sua identidade, a sua "alentejanidade", de estar em contacto com os seus, aproveita-a com grande satisfação.

Este último acto, realizou-se no Forum Romeu Correia no centro de Almada.
Apesar de grande ,o espaço tornou-se insuficiente para os muitos que não quiseram perder a oportunidade de vibrar com o cante da sua terra, da sua região. Muitos ficaram de pé nas coxias laterais.

Antes do inicio do espectáculo "entre-portas", os grupos concentraram-se na Praça defronte do Forum, e desfilaram cantando`até ao Anfiteatro.

Na magnifica sala de espectáculos, os primeiros a actuar, foram os da casa, o Grupo Coral dos Amigos do Alentejo do Feijó, que já adregaram no cante um lugar de relevo.
Ano após ano vão-se firmando cada vez mais no pelotão da frente , e a sua qualidade técnica e sonoridade muito própria ,impressiona e convence.



Logo os primeiros sons encheram a sala ansiosa:

Eu estou devendo à Terra
e a Terra está me devendo
A Terra paga-m’em vida
Eu pago à Terra em morrendo

Alentejo, Alentejo
Terra sagrada do pão
Eu hei-de ir ao Alentejo
Mesmo que seja no Verão
Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão
Alentejo Alentejo
Terra sagrada do pão

Daqui para a minha terra
Tudo é caminho e chão
Daqui para a minha terra
Tudo é caminho e chão
Tudo são cravos e rosas
Dispostas por minhas mãos

Alentejo, Alentejo

Terra sagrada do pão

Os primeiros aplausos, quentes, explodiram

Seguiram cantando;

VELHOS MONTES
....
..
Ao fundo no horizonte
de chaminé levantada
no meio da terra lavrada
lá ficava o velho monte

Velho monte alentejano
deste Alentejo esquecido
ou estás no meio da coutada
na herdade abandonada
ou estás no chão destruído


Era o lamento pelo destino que vai sendo dado aos velhos montes.

Ainda os aplausos se ouviam e já começava:

..
"Oh amôr paga a quem deves
não queiras ficar devendo
quem não paga nesta vida
oh meu lindo amôr
paga na outra em morrendo
.

Despedidos com uma trovoada de palmas, logo o palco se encheu de mondadeiras..
Sim, o Grupo das Mondadeiras de Santa Cruz de Almodôvar



Perfiladas no palco e após um silêncio à procura do silêncio, a porta-voz das Mondadeiras anunciou a moda que iam cantar, quando de súbito desatou a rir ,num riso convulsivo que por momentos foi incapaz de controlar.
Pediu desculpas e lá veio a moda:

"VAI COLHER À SILVA"

Se eu tivesse a sorte
que a viola tem
andava nos braços
do meu lindo bem

Anda cá pr'á aqui
não chores é mais
eu ainda aqui estou
pr'a ouvir os teus ais


A divertida porta-voz do grupo voltou então ao micro e dirigindo-se à plateia, disse:

-"Eu estava há bocado a rir-me duma brincadeira que tive com as minhas colegas antes de entrarmos para o palco. Lembrei-me disso quando estava a apresentar e não consegui controlar o riso. Por isso não pensem que sou parva..."(risos)

A plateia rebentou em aplausos, enquanto divertida ela ia ajuntando:

-"Desconfio que foi do medronho...(risos). Estou nervosa , que isto de estar aqui a cantar para esta sala cheia, é assim como se viessemos cantar ao Olympia "(de Paris)

Muitos aplausos.

Depois veio "O CARTAXINHO"

Levantei-me um dia cedo
e fui passear ao campo
encontrei o teu retrato
na folha do lirio branco

Já ia fazer o ninho
em cima dum arvoredo
para vêr o cartaxinho
oh meu lindo amôr
levantei-me um dia cedo


Palmas e mais palmas da plateia

E o grupo despediu-se com:

Minha linda mondadeira
não tens trigo pr'a mondar
pede ao povo que te diga
quem o deve semear

Mondadeira alentejana
com o seu lenço tapa o rosto
à chuva, ao frio ,ao calôr
desde o nascer ao sol posto


Muito aplaudidas deram lugar ao Grupo Coral Etnográfico do Ateneu Mourense- Moura




"MOURA LINDA"

Linda Terra que te beija,
O Ardila e Guadiana!
Às outras causas inveja,
Linda vila alentejana!

Ó Moura linda de graça infinda,
Como tu outra não vi!
Simples singela, és sempre bela,
És sempre bela, como belo é tudo em ti!

Os teus prados verdejantes,
Salpicados de papoilas!
Tornam-se mais cativantes,
Se os mondam lindas moçoilas!


Aplausos e mais aplausos, a que se seguiu:

MALMEQUER

Malmequer criado no campo
Delírio da mocidade
Pelas tuas brancas folhas
Malmequer diz-me a verdade
Malmequer diz-me a verdade
E guarda-me o teu segredo
Pelas tuas brancas folhas
Malmequer não tenhas medo


Então, o divertido porta voz do grupo dirigindo-se à plateia a abarrotar, com pessoas de pé nas coxias laterais, disse:

-Vou contar-vos uma história que se passou com dois amigos do coração de Póvoa de São Miguel. Andaram na escola juntos, depois também na tropa, foram combater pr'ás colónias e como agricultores que são, foram um dia a Lisboa no expresso para uma reunião no INGA por via de uns subsidios.
Já saíram tarde da "obrigação" e deixaram passar a hora do ultimo expresso. Já não podiam regressar à terra nesse dia.
Então, decidiram "ir às meninas" de que tanto lhes falaram. Enteiraram-se da morada de uma casa onde podiam encontrar essas tais, e puseram-se a caminho.
Lá chegados, a "madame" lamentou:-Os senhores desculpem , mas hoje só cá tenho uma "menina".
Aceitaram ir à vez...
O primeiro a "servir-se", logo foi comentando à saída:
-Oh compadre, afinal a minha Maria é muito melhor que esta magana, que não foi lá grande coisa.
O outro entrou ansioso pró quarto, e quando se despachou logo foi dizendo ao companheiro:
-Vocemessê tem razão, a sua Maria é muito melhor que esta...!!!!


A sala estourou de rir e aplaudir

Foi então a vez dos "GANHÕES DE CASTRO VERDE", grupo muito consagrado, que tem já no curriculum vários CD's e actuações ao vivo com Dulce Pontes.


Os Ganhões cantaram:

AS FLORES QUE HÁ NO CAMPO, a que se seguiu

A RIBEIRA DO SOL POSTO

A ribeira do sol posto
tem uma ponte moderna
depois da ponte estar feita
toda a gente se governa
..
Eu aprendi a cantar
lavrando em terra molhada
lá na solidão dos campos
pensando na minha amada


Muitos aplaudidos ,deram-nos a fechar o clássico:

É TÃO GRANDE O ALENTEJO

No Alentejo eu trabalho
cultivando a dura terra.
Vou fumando o meu cigarro,
vou cumprindo o meu horário
lá na encosta da serra.

É tão grande o Alentejo,
tanta terra abandonada!
A terra é que dá o pão
para bem desta nação -
devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
à margem ao sul do Tejo.
Há gente desempregada,
tanta terra abandonada,
é tão grande o Alentejo.

Trabalha, homem, trabalha,
se queres ter o teu valor.
Os calos são os anéis,
os calos são os anéis
do homem trabalhador.

É tão grande o Alentejo,
tanta terra abandonada.
A terra é que dá o pão
para bem desta nação -
devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido
à margem ao sul do Tejo.
Há gente desempregada,
tanta terra abandonada,
é tão grande o Alentejo


Ainda nos refazíamos da magia espalhada pelos Ganhões, e logo veio um dos grandes momentos da noite.

O PEDRO MESTRE trouxe-nos, além da sua vila campaniça, um cantor popular brasileiro ,o CHICO LOBO de Minas Gerais mais a sua viola caipira.


O Pedro nunca se limita a cantar e a tocar, ele sempre estabelece uma enorme empatia com as plateias, com as pessoas para quem actua.
O seu amôr pela música alentejana leva-o a pesquisar constantemente, e nesse trabalho de recolha encontrou por terras do Brasil, uma região que é irmã do Alentejo.
Essa região é o Estado de Minas Gerais.
Lá descobriu, não só uma maneira de estar na vida semelhante à dos alentejanos, como também uma viola com caracteristicas semelhantes à nossa viola campaniça - a viola caipira.

E trouxe-nos o CHICO LOBO ,inseparável da sua viola.
Os dois, juntos cantaram e encantaram, mostrando que a campaniça é afinal a verdadeira mãe da caipira.


E os dois entoaram:

Eu fui ao jardim das damas
apanhar cravos e rosas
para dar ao Serafim

Eu fui ao jardim das damas
apanhar uma flôr
para dar ao Serafim
para dar ao meu lindo amôr


O Chico como todos os brasileiros tem uma enorme facilidade de comunicação, e num português perfumado dos trópicos, logo foi conclamando a sua afinidade mineira com o Alentejo:

-"Nós somos os alentejanos do Brasil"

e a fazer de questão de cantar junto com o Pedro num sotaque quase alentejano a

MARIANA CAMPANIÇA

A mariana campaniça
Que lindos olhos que tem
Do monte da légua às pias
À missa não vai ninguém

À missa não vai ninguém
Á missa já ninguém vai
A Mariana campaniça
Coitadinha não tem pai

Coitadinha não tem pai
E mãe também já não tem
A Mariana campaniça
Que lindos olhos que tem


Para concluir a sua actuação o Chico quis salientar que a canção que se ia seguir, era uma moda mineira, que o próprio Pedro Mestre lhe tinha assegurado quando a ouviu pela primeira vez,que:

-"Chico, essa canção está cheia de alentejo", reproduziu o Chico, e voltando-se para o Pedro perguntou?"

-"Não é Pedro?"

Ao que este respondeu:

-"Sim, claro, se a gente o meter lá, tem sempre...!!!(risos)

Despedidos com a sala a apludir de de pé, foram substituídos pelas vozes do Grupo Etnográfico dos Cantares de Évora:



ROSA BRANCA

De uma rosa nasceram
Duas roseiras da paz
Mal o vento as movia
Mal o vento as mexia
Iam-se as rosas beijar

Rosa Branca tu não vás
Ao meu jardim sem eu ir
Teu coração não é capaz
De fazer o que o meu faz
Leva as noites sem dormir

Leva as noites sem dormir
Pensando em ti meu amor
Eu não posso resistir
Rosa Branca deixa-me ir
P’r’ o teu peito encantador

A rosa depois de seca
Foi-se queixar ao jardim
Respondeu-lhe o jardineiro
Respondeu-lhe o jardineiro
Tudo no mundo tem fim.

Muitos aplausos de novo, e ei-los que arrancam para a:

MODA DO ALMOCREVE

A moda do Almocreve
Eu aprendi a cantare
Lavrando em terra molhada
Alegremente cantando
Pensando em ti minha amada (bis)

Lembram-me os tempos passados
Tudo se vai acabando
Os bois puxando arado
O almocreve cantando (bis)

O almocreve cantando
Cultivando verdes prados
Quando eu vejo alguém lavrando
Lembram-me os tempos passados


A noite já ia longa, mas ninguém arredava pé, e os aplausos não abrandavam.
O Grupo terninou a sua actuação com:

A MODA DO CAPOTINHO:

Esta noite nem me deito
Esta noite nem m’eu deito/só o fim de ouvir cantar/gosto de ouvir bem feito/em certo particular


Seguiram-se as ANDORINHAS DO ROSÁRIO


trazendo :

O ALENTEJO QUE CANTA

Oh amor se fores
à varzea redonda
dá lá saudades
dá lá saudades
às moças da monda

...

Muito aplaudidas cantaram então

CASEI COM UMA CEIFEIRA

Anda daí vem comigo
que bonita alentejana
trigueira da côr do trigo
e olhos côr de azeitona

Essa trigueira bonita
essa bonita rainha
já temos uma trigueira
uma bonita trigueirinha

Aplaudidas de pé, AS ANDORINHAS despediram-se com o seu hino:

Na aldeia do Rosário
mais ao sul de Portugal
com as nossas casas branquinhas
é das Andorinhas
o nosso grupo coral


E a festa continuou com um dos grupos da Vila festejada, "AS VOZES DE ALMODÔVAR"


que começou por nos oferecer;

CEIFEIRA DO ALENTEJO

Trabalha homem trabalha
se queres ter algum valôr
os calos são os anéis
do homem trabalhador

Ceifeira do Alentejo
tu ceifas o loiro trigo
empresta-me a tua foice
eu quero ceifar contigo

Eu quero ceifar o pão
é a coisa que eu mais invejo
tu ceifas o loiro trigo
ceifeira do Alentejo


Num mar de aplausos interpretaram "Verão a braza dourada" e terminaram em apoteose com:

BEJA ÉS TÂO LINDA

Oh meu Alentejo
jardim de quimera
veem os seus amores
apanhar flores pela Primavera

Castro e Almodôvar
Mertola e Ourique
Aljustrel, Alvito
Serpa e Odemira
Barrancos invejo
Cuba e Vidigueira
Moura e Ferreira
meu baixo Alentejo


Despedidos com uma enorme ovação deram lugar ao Grupo que costuma fechar estas noites alentejanas.

O Grupo Coral e Instrumental da Câmara Municipal de Almodôvar, que tal como o já fizera em duas noites em que fechou o espectáculo, pôs toda a sala a cantar e a bater palmas. Desta vez, só não se dançou, por a sala ser um anfiteatro e as coxias não terem espaço mínimo para o fazer.


E pronto ,esta foi mais uma memorável semana alentejana en Almada, Laranjeiro, Cova da Piedade e no Feijó, só possível pela carolice e poder organizativo dos Amigos do Alentejo do Feijó e o apoio da Camara de Almada.
Até para o ano.