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"Eu toco bem, mas gostava
de dar os parabéns a quem
tocasse melhor do que eu"
(MANUEL BENTO)
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Tal como anunciado, realizou-se na ultima sexta feira, no Museu da Lucerna, em Castro Verde,a cerimónia de um duplo lançamento.
Um CD do tocador de viola campaniça , Manuel Bento e o número zero da Revista "Cortiçol"
Manuel Bento é o maior tocador vivo da viola campaniça.
Infelizmente por motivo de saúde não pôde estar presente em pessoas, mas esteve sim, não só em espirito, mas também com o som da sua voz e a magia da sua música.
Ouviram-se espiras do seu CD, as suas composições, a sua voz inconfundível contando peripécias da sua vida pessoal e artistica, ao mesmo tempo, que numa parede do nuseu era projectada a sua imagem com sua mulher Perpétua e seu tio Francisco António.
Então o Director da Cooperativa Cortiçol, Joaquim Rosa ,deu a palavra à pessoa que melhor conhece o mestre Manuel Bento, ou melhor,deu a palavra, ao grande responsável pela sua descoberta, não só a do mestre, mas também da própria viola campaniça.
Se não fosse a sua carolice, a sua persistência, a sua procura das raízes do cante, ou melhor, da cultura alentejana em geral, hoje não teríamos tanta informação sobre o Alentejo, nem tantos artistas como o Manuel Bento, para ouvir, vêr e curtir.
E a sua voz trouxe-nos o mestre Manuel Bento:
"Há 25 anos ignorava a existência de tocadores vivos de viola campaniça, Na Rádio ,no "Património" passava muitos grupos corais, mas não tocadores de campaniças"
E prosseguiu ,recordando:
"Um dia, num contacto breve, numa viagem com os "Ganhões", parámos num local do Concelho de Odemira. Tinha havido uma festa e de repente, fui surpreendido por um cante de uma sonoridade diferente que vinha de um grupo de pessoas que cantavam à volta de uma mesa - era o baldão.!"
Visivelmente a viver aquele momento mágico que então curtiu, prosseguiu entusiasmado:
"Mais tarde ouvi dizer que na Estação de Ourique havia um homem que tocava muito bem. Fui até lá e conheci o Francisco António, que logo se prestou a ir buscar a sua viola de cima dum armário , começando a extrair dela, um som espantoso que eu nunca havia ouvido - era o som da viola campaniça."
Via-se que o orador estava de novo a viver o momento da descoberta:
"Ao perceber o encanto daquela sonoridade, perguntei ao Francisco António se havia mais tocadores vivos daquele tipo de viola. Ele revelou-me então que tinha um sobrinho que tocava melhor que ele, adiantando que residia na Funcheira e se chamava Manuel Bento"
Nesta altura, toda a sala do Museu se encontrava presa da descrição...
"Fui até lá, e ao chegar encontrei um velhote, dirigi-lhe a palavra e perguntei:
- Conhece por aqui um senhor que toca muito bem
viola, e é sobrinho do senhor Francisco António?
ao que para minha surpresa (pois aquele senhor era mais velho) ele respondeu:
-Sou eu o sobrinho que toca"
Sorrisos entre os presentes
"Foi então que o Manuel Bento (que acabara de conhecer) começou por avisar que já quase não tocava, que até nem todas as cordas tinha, acabou por pegar na viola, e tocou uma moda ou duas, com um som e uma execução técnica fantástica. A sua mulher Perpétua juntou-se-lhe e começou a cantar. Então ,logo ali um céu abriu-se e compreendi que tinha começado uma nova era"
E rematou com visivel empolgamento:
"Aí a Cortiçol entusiasmou-os e começaram a tocar e a cantar um pouco por todo o Baixo Alentejo e todo o país, tendo até já mostrado a sua arte no estrangeiro , nomeadamente o Canadá"
"Há 5/6 anos fez-se uma recolha das músicas de Mestre Manuel Bento, gravaram-se 60 músicas das quais agora se apresentam 25 neste CD hoje lançados"
O segundo lançamento da tarde foi o da Revista "Cortiçol".
Para a apresentar, falou o seu Coordenador, Paulo Madureira, que começou por dizer que este lançamento se devia a umas quantas vontades reunidas neste projecto escrito em que a cultura é dominante.
Disse ainda que o "Cortiçol" pretende ser mais um instrumento de promoção da cultura alentejana, não só de Castro Verde, mas para chegar a outros pontos do Baixo Alentejo e mesmo do País como um todo.
"Aprender com o ontem
para nos situarmos melhor
nos dias de hoje"
A "Cortiçol" terá como fio condutor focar aspectos de natureza antropológica, sociológica e etnográfica na sua vertente etno-musical, capaz de ser um instrumento com caracteristicas de investigação e rigor sobre o que se faz e como se faz cultura na região.
Muitos saberes escritos e lidos, aumentam o conhecimento.
É esse o objectivo