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É DIA DO BOM CINEMA NO
FORUM MUNICIPAL DE
CASTRO VERDE, HOJE -21,30
O FILME DE HOJE É:
"CHEIRO DA PAPAIA VERDE"
"CHEIRO DA PAPAIA VERDE" de /Mui Du Du Xanh
Realizado por Tran Anh Hung
França/Vietname, 1993 Cor – 96 min.
Com: Tran Nu Yen-Khe, Lu Man San, Truong Thi Loc, Nguyen Anh Hoa, Vuong Hoa Hoi, Tran Ngoc Trung, Talisman Vantha, Souvannavong Keo, Nguyen Van Oanh, Gérard Neth
drama época romance
1951. Com apenas 10 anos, a pequena Mùi (Lu) deixa a sua aldeia e vai morar para a casa de uma família de Saigão, onde ajuda Ti (Nguyen), uma criada já idosa, nas lides domésticas. Outrora abastada, a família sofre os efeitos da crise económica e das inconstantes fugas do chefe de família (Tran), que, sem razão aparente, agarra no dinheiro e desaparece durante algum tempo. A economia doméstica é controlada pela matriarca (Truong), que comercializa tecidos, obtendo assim algum dinheiro para alimentar os filhos e manter alguma dignidade. Na casa vive o casal, com três filhos, um já adolescente e outros mais novos, e a avó paterna, que não abandona o seu quarto, no andar superior, desde a morte de Tô, a neta que teria a idade de Mùi, se fosse viva. Aos 20 anos, a vida de Mùi (Tran Nu), que continua a ser tímida e ingénua, irá ter de adaptar-se a uma nova realidade.
«O cheiro a Papaia Verde» é a primeira longa-metragem de Tran Anh Hung, um cineasta vietnamita que foi estudar para França onde vive actualmente com a família (é casado com a actriz Tran An Nun Khe), sendo também o único dos seus filmes a ter obtido o privilégio de uma estreia em território nacional (cinema Mundial, em Lisboa, Junho de 96). Tran adquiriu notoriedade internacional logo com esta sua primeira longa metragem, a qual ganhou a Câmera de Ouro em Cannes (93) e o prémio para a Melhor Primeira Obra nos Césares, de 1994, sendo ainda nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, nesse mesmo mesmo ano. Este filme é provavelmente ainda a mais conhecida e difundida das suas obras, apesar da superioridade de «Cyclo», que se lhe seguiria.
Tran viu recusada a autorização para filmar no Vietname, o que obrigou a produção a recriar Saigão dentro de um estúdio em França, algo que não é muito notório numa primeira análise, apesar de ser um filme que se passa muito em interiores, e quase sempre nos mesmos cenários; meia dúzia de divisões, uma ou duas ruas. A simulação é perfeita, pois em momento algum duvidamos que estamos a assistir a uma história passada no Vietname. Talvez por ter apreciado o resultado final, o governo Vietnamita permitiu a filmagem de «Cyclo» em Ho Chi Min, mas viria a bani-lo em seguida (certamente por ter detestado o resultado final).
Tran interessa-se pelas motivações internas das suas personagens, sem recorrer a muitas manifestações externas ou ao contacto com os outros. De um modo geral, as personagens guardam as suas preocupações para si mesmas. Os diálogos são mínimos – o "romance" do segmento final é quase sem palavras, podendo o espectador chegar a pensar que, por alguma razão, Mùi perdeu a fala – e existem diversos grandes planos, em estilo quase documental, de plantas, insectos, rãs, lagartos, etc., os quais são contemplados pelas personagens, em particular pelo filho do meio e por Mùi, como um modo de compensar o seu isolamento em relação aos demais. No caso do miúdo trata-se de uma reacção aos vários problemas familiares: a morte da irmã, que ainda afecta cada membro da família, as fugas do pai, o desespero da mãe, a tristeza da avó, que, ainda assim, não deixa de culpar a nora, por todos os males que os afectam. Por essa razão a interacção dele com a natureza circundante é sobretudo destrutiva (queima e esmaga formigas, usa uma fisga, etc.) O olhar de Mùi é oposto: apesar de vir de uma família muito pobre e de ser órfã de pai, tudo para ela ali é descoberta e motivo de fascínio. Está feliz com a sua existência simples e tem esperança no amanhã. É assim que se deixa seduzir pelas pequenas coisas que a rodeiam, dos pequenos insectos, às sementes no interior de uma papaia. Olha-as, cheira-as, toca-lhes.
Os planos quase microscópicos em que se enquadram os insectos podem fazer recordar o cinema de Imamura Shohei, mas o seu emprego é diverso, pois o cineasta japonês usa-os enquanto ilustração ou paralelo da vida humana ou das personagens dos seus filmes, enquanto aqui são elementos exteriores às personagens, mas importantes para ilustrar os seus estados de alma.