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AS LENDAS DE CASTRO VERDE
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A riqueza de um Povo, de uma região, assenta na sua História, e também nas suas Lendas.
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Lenda da Cabeça de São fabião
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Consta que a cabeça teria sido trazida para o alentejo pela princesa Vataça, neta de um imperador Grego, que passou pelo concelho de Castro Verde.
Crê-se que este relicário foi fabricado na primeira metade do séc.XIII.
Se é inaceitável para a época a que foi atribuída, o seu fabrico ter quaisquer intencões de retrato naturalista, foram plenamente atingidos os objectivos do artífice, se este pretendeu com esta cabeça sugerir forças ocultas. Se o seu criador lhe abriu os ouvidos para que pudesse escutar os lamentos, as narinas para sentir as doenças e a boca para fazer saír o bafo generoso, deixou intactas as pupilas dos olhos, leva a crêr que os encomendadores iniciais, não pretendiam mandar encastoar e adorar uma simples relíquia, conhecendo perfeitamente os poderes a realçar e os perígos a evitar. De qualquer homem morto e muito mais de um Saudador, era preciso evitar o olhar e nomeadamente a insondável pupila, sempre perigosa ligação com os mundos do Além.
Apesar de há muito ter perdido a sua função, a cabeça- relicário permanecia viva na memória colectiva local, sendo identificada com S. Fabião, papa e mártir. Na opinião de alguns moradores mais idosos, o seu poder e virtudes procediam da facildade de sarar as doenças do gado.
Hoje, apesar de despojada de quase todas estas fabulosas roupagens que alimentaram os medos e os sonhos de tantas gerações, a cabeça- relicário de Casével continua a manter aquele olhar condescendente e inofensivo, aquele infindável sorriso de quem sabe que o seu mistério nunca será desvendado.
A Cabeça
A primeira referência documental à cabeça- relicário de S. Fabião, encontra-se num processo de visitação da comenda de Casével, do ano de 1565. Nas diversas visitações anteriores a 1565, um tanto estranhamente, não é feita qualquer alusão à cabeça relicário de S. Fabião. Numa visita empreendida por uma equipa do campo arqueológico de Mértola, em 1986, à pequena aldeia de Casével, com o objectivo de reunir e inventariar a documentação histórica dapositada na junta de freguesia, ocorreu uma insólita e extraordinária descoberta. Entre várias alfais litúrgicas em prata e em prata dourada, surgiu uma cabeça de prata de tamanho natural, contendo no seu interior, como depois se constatou, um crâneo humano.
A cabeça, em tamanho natural, é um trabalho em repuxado sobre chapa de prata de elevado teor argentífero. Através de um largo orifício zenital, onde se encontra rebitada uma cruz pátea é perceptível a calote craniana, à qual foi possível aceder, separando as duas partes do invólucro metálico, juntas entre si por pequenos parafusos de cabeça lavrada (trabalhada). O pescoço plinto é interiormente preenchido por um toro de azinho que serve de contrapeso e de suporte a uma pequena chapa de cobre com banho de prata, onde estão os restos ósseos, constituídos por uma calote craniana e quatro esquírolas. (O ertudo prévio osteológico foi efectuado em 1986, por um membro do campo arqueológico de Mértola. Citamos o telatório: " O material analisado é constituído por: 1 calote craniana; 1 osso lacrimal; parte inferior do temporal esquerdo (...) O material ósseo estudado pertence a um indivíduo do sexo masculino, com a idade compreendida entre os 30 e os 45 anos").
Envolvidos num pano de seda e apertados por um fio de prata, estes fragmentos de osso guardavam-se no interior da calote, que por sua vez assentava na chapa de suporte por uma fita côr de rosa. A parte posterior da cabeça é constituída por uma só chapa alongada a martelo e fixada ao plinto por solda e rebites. A face tem várias componentes, soldadas entre si e todas em repuxado, com excepção para a boca e o nariz que foram fundidos numa só peça.
Para além da abertura practicada no alto da cabeça e do seu adorno cruciforme, notam-se comunicando com o interior, seis pequenas perfurações entre os lábios, duas a servir de narinas e uma em cada orelha.