quinta-feira, abril 15, 2004

PASCOA ALENTEJANA

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Foi uma Páscoa alentejana, entre família e amigos.
A alegria do reencontro com a terra e com as pessoas.
A bica na esplanada do Bate Papo, ao sol já quente de Abril,ali , na Praça da República.
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A saborosa açorda alentejana da Ana , onde o azeite, o alho , e os coentros , alteraram , melhoraram ,o sabor do pão.
Os Porteirinhos , uma etapa familar.
Neves da Graça, e Graça de Padrões e a lojinha do Zé Rodrigues.
O Monte da Ribeira é Alentejo profundo, é o príncipio de tudo, é a matriz..
Era grande a vontade de recolher a maior quantidade possível de material ,para enriquecimento do nosso Blog, e esse objectivo foi superado.
A Ana e o António contribuíram ,e revelaram-se uma fonte inesgotável de memórias, uma verdadeira jazida de conhecimento do passado histórico da família e da região.
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SERÃO MÁGICO
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O serão no Monte da Ribeira, foi ponto alto, foi inesquecível, foi mágico.
De repente, ali todos juntos, à volta da fogueira, as memórias foram-se tornando realidade, o passado fez-se presente, e pela palavra emocionada do António, verdadeiro "guardião do templo" ,depararam-se-nos imagens nítidas, de nove catraios a invadiram aquele espaço a rodearem o tio Branco, que lhes ia contando "a Princesa d.Austria, ao mesmo tempo, que sentimos os passos do tio António Luis, no corredor, enquanto ia perguntando em voz alta: " Quem é que quer que lhe faça sapatos hoje?"
E foi ainda um tanto confusos, que vimos, claramente visto, as moças do Pardieiro entrarem em grande algazarra para mais um baile.
-"Vamos aos arquinhos até ao nosso Monte" gritou a Aliete, logo secundada pela Eduarda e as demais irmãs:
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"OH MOÇAS FAÇAM ARQUINHOS
OH MOÇAS FAÇAM ARCAIS
PARA PASSAR MEU BENZINHO
PARA PASSAR MEU RAPAZ"
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e o sonho continuou,
todos nós vimos, como num filme com côres- e -cheiro, a casa ficar toda enfeitada com folhas de palmeira, e a imagem do Manuel Serrenho, com a sua concertina, a tocar ,e todos a dançar, e a "passarem par", enquanto versejavam, no seu cerco de côrte:
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"OLHOS LINDOS EXPRESSIVOS
VÁGUOS E SONHADORES
SÓ EU SEI POR MIL MOTIVOS
QUANTO SÃO ENGANADORES"
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Naquela época os bailes eram quase expontâneos contava a Ana, e os "assaltos para "bailar", de monte para monte, eram muito desejados e muito divertidos.
Voltámos à ilusão, e lá estava agora o Chico da Quinta ,com o seu bandolim, acompanhando o Manuel do Doze e meio:
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"FUI NASCIDO NUMA ALDEIA
E CRIADO NUM MONTINHO
SOU O MANUEL ANTÓNIO DEODATO
QUE ME PÔS MEU PADRINHO"
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"ALMODÔVAR MEU CONCELHO
QUE NO MEIO TEM UMA PONTE
ROSÁRIO MINHA FREGUESIA
DOZE E MEIO É O MEU MONTE"
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E eis que alguém suspeita ,que alguém andava com alguma, e solta uma quadra:
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"DIZEM QUE NÃO PODE SER
MATO NOVO DAR OREGÃOS
ANDA AÍ UM AMÔR NOVO
E QUEREM FAZER OS MAIS, CEGOS"
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De quando em quando, a voz da Joana soava, a chamar-nos à realidade, interrompendo-nos por momentos o sonho:
-"Vá Lena, come mais um queijinho, Alice, deixa lá as dietas, não pode aqui ficar nada.!"
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para logo voltarmos a ouvir:

"TENHO UM PALÁCIO ENTRE AS NUVENS
AO DESAMPARO DO VENTO
QUANDO ESTOU ABORRECIDO
VOU PARA LÁ PASSAR O TEMPO".

e ainda ouTra se ouviu:
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"A LÍNGUA DA MINHA SOGRA
TEM DOIS METROS E OITENTA
FEITA DE SAL REFINADO
POLVILHADA COM PIMENTA"
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"NAMOREI UMA SOPEIRA
ELA ERA UMA MOÇA BOA
DÁVA-ME COSTAS E BOLOS
QU' ELA ROUBAVA À PATROA.
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e pela noite dentro foram desfilando outras memórias, contaram-se estórias de malteses, dos bailes dos Porteirinhos na casa do tio Luis, falou-se da Tia Ana do Forno da Cal, das partidos dos moços, do lavrador do Testa e a sua Casa da Malta.
De tudo isso voltarei a falar neste Blog.