sexta-feira, abril 23, 2004

Ó MINHA MÃEZINHA QUERIDA

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Poema dedicado pelo António
à mãe, FELICIDADE LÚCIA,
quando estava na recruta
no serviço militar, em
Lisboa:
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Nas serras a caminhar
e sem poder descansar
mãezinha do coração
caminhando no escuro
fosse mole ou fosse duro
mãezinha não tinha pão.
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Fome e vontade de dormir
sem roupas para me cobrir
minha mãe o que eu passei
andadando a restejar
ouvindo as balas cantar
ó mãe de ti me lembrei
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Dentro do acampamento
onde estava o mantimento
para nos alimentarmos
mas foi grande o sofrimento
nós dormimos ao relento
sem roupa para nos taparmos
.
Ouvi estoirar as granadas
eu caí em emboscadas
na frente de metralhadoras
e junto a colegas meus
eu só tinha esperança em Deus
e na Virgem Nossa Senhora
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Andando léguas quase dez
e com tanta dôr nos pés
minha mãezinha adorada
abalámos às nove horas
nunca tivémos demoras
chegámos de madrugada.
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Minha bela mocidade
na flôr da minha idade
estou metido na prisão
minha sorte foi ruim
não quero que chore por mim
mãezinha do coração.
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Tenho tanta saudade
deixar a velha unidade
e voltar à minha vida
logo há-de chegar o dia
de ir para a sua companhia
ó minha mãezinha querida.
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Também temos uma pista
que nos faz perder a vista
minha mãezinha adorada
e quando nós lá passamos
logo todos pensamos
que temos a morte chegada.
.
Nas ruas da cidade
caminhando com velocidade
ó minha mãezinha querida
por ser grande o movimento
às vezes em pouco tempo
alguns perdem a vida.

Poema escrito em 1961
ANTÓNIO JOSE COLAÇO
.
Este poema foi dito de
viva voz pelo autor,
na noite mágica, no
Monte da Ribeira e na
presença de
Joana
Tó Zé
Maria Alice
Maria Helena
Ana
e da filha Lena
e do genro José Francisco.