sábado, julho 19, 2008

NOITES AO RELENTO

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Ontem à noite na Pracinha fronteira À Igreja dos Remédios, aqui em Castro Verde, o espaço transformou-se em teatro com palco e tudo.

Muita gente, muita curiosidade, e para quem esteve atento, uma saborosa noite de teatro

O nosso blog esteve lá ,e recolheu imagens



Presente a anunciada participação do Teatro de Montemuro com a excelente peça "SPLASH"



Uma estória contada em formato "comédia dell'arte"

O QUE É ISSO DE FORMATO "COMÉDIA DELL'ARTE"?

"Por Commedia dell’arte entende-se a comédia italiana de improviso, que surge na Itália em meados do século XII e se prolonga até ao século XVII. O termo dell’arte traduz bem uma das suas principais características. Trata-se de uma comédia representada, não por actores amadores, mas sim por actores profissionais, dotados de um talento particular. Porém seus diálogos tinham larga medida de improviso, pelo que este tipo de arte também é conhecido por Commedia all’improviso (comédia de improviso) ou Commedia a soggeto (comédia de tema). É também denominada Commedia delle maschere (comédia das máscaras), uma vez que este elemento de vestuário era extremamente relevante na composição das personagens, servindo para melhor os ridicularizar e caracterizar. Por fim, uma outra denominação é Commedia dei zanni, de zanni (empregados, servos), caracteres importantes em toda trama deste gênero."

E O TEMA DA PEÇA, A "ESTÓRIA":

Duas famílias. Dois estilos de vida. A água e a agricultura. Este é um espectáculo que fala de um rio que desune, ao invés de suscitar a partilha. Assim se fez Splash. Onde um rio dá lugar a uma cheia, justamente quando o telhado acaba de ser montado. Era o Vazio, depois o rio, depois a cheia, a seguir foi tudo por um ralo e veio a seca. E só com esta, com a ausência total da água, se pôde fazer a última de todas as equações. Aquela que refere que menos com menos... dá sempre mais. Pelo menos enquanto houver pessoas.

DE ONDE VEM ESTA COMPANHIA DE TEATRO?

Vem de Campo Benfeito, uma pequena aldeia no interior da serra de Montemuro, existe e é uma das mais particulares e singulares companhias de teatro portuguesas: o Grupo de Teatro Regional da Serra de Montemuro Em Campo Benfeito as pessoas vivem de uma forma diferente, como se o tempo ali passasse mais devagar. Cada momento, cada acontecimento, é vivido com mais calma, quase que saboreado como uma farta refeição. A pressa parece não ter lugar, a não ser no grupo de teatro da terra onde, por esta altura, se prepara uma nova produção teatral e uma vinda a Lisboa.

Situada a cerca de 10 km de Castro Daire, a aldeia de Campo Benfeito, bem no cimo da Serra de Montemuro, é um exemplo perfeito de como o isolamento geográfico pode falar mais alto. Muitas são as casas fechadas. À semelhança do que acontece um pouco por todo o interior do país, onde ao isolamento geográfico natural se juntou a falta de infra-estruturas e de investimento, foram muitos os filhos da terra que partiram para Lisboa e para o Porto em busca do sonho dourado de uma vida mais farta.


A população desta aldeia ronda a meia centena de habitantes e a sua média de idades anda próxima dos 50 anos, o que torna ainda mais peculiar o aparecimento de uma companhia de teatro onde o elemento mais velho tem 38 anos.

Formado em 1991 por alguns dos filhos da aldeia com a ajuda de um então forasteiro inglês chamado Graeme Pulleyn, o Grupo de Teatro Regional da Serra de Montemuro é actualmente o ganha pão de seis pessoas que aí trabalham a tempo inteiro e que se desdobram nas mais variadas funções. Carlos Cal é o carpinteiro de serviço, Eduardo Correia é o actor, Abel Duarte é também actor, director de cena e sonoplasta, Graeme Pulleyn que é actor, encenador e tradutor. Há ainda o actor Paulo Duarte e a benjamim Paula Teixeira, a única mulher da companhia que trata da promoção e produção dos espectáculos.

Hoje em dia, como explica orgulhosamente Eduardo Correia, o grupo passa "mais de metade do ano" fora de Campo Benfeito, em digressão com os seus muitos espectáculos, dentro e fora de Portugal.
Hoje em dia, e como referiu Abel Duarte, pensam de modo "diferente". "Os meus pais viam a minha participação no teatro não como uma profissão, mas como uma forma de me escapar à agricultura. Hoje já pensam de modo diferente."

Dez anos depois, este grupo que fez animação em festas, que fez diversos workshops no país e em Inglaterra, que já criou e apresentou dezena e meia de produções, profissionalizou-se, deu a conhecer o seu trabalho, sempre sem esquecer as suas origens, sem perder o rumo e sempre com entusiasmo e alegria contagiantes, como se cada espectáculo fosse o primeiro.

Os lugares mais movimentados da aldeia são os que estão ligados ao grupo de teatro: a sede, situada numa garagem na aldeia, o escritório (também ele situado na aldeia mas numa outra casa) e a sala do Fojo " um espaço próximo da aldeia, onde o grupo apresenta os seus espectáculos, prepara outros e constrói cenários.

Apesar de serem apenas seis os elementos do Grupo de Teatro Regional da Serra de Montemuro são sempre mais os que trabalham com eles. Estes são, na sua maioria, estrangeiros que, de forma mais ou menos acidental, descobriram Campo Benfeito.