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REALIZA.SE HOJE E AMANHÃ, NOS AÇORES
NA ILHA DE SÃO MIGUEL, O II ENCONTRO
DE VIOLAS DE ARAME .
Estarão reunidos em São Miguel os músicos José Barros (viola braguesa), Pedro Mestre (viola campaniça) Vítor Sardinha (viola de arame da Madeira), Rafael Carvalho (viola da terra) e uma adição especial ao cartaz, o brasileiro Chico Lobo (viola caipira).
Durante os espectáculos cada um dos artistas irá apresentar o seu instrumento ao público, falando das suas particularidades e tocando algumas músicas do repertório tradicional, concluindo-se os concertos com uma actuação em conjunto de todos os diferentes músicos.
O encontro inicia-se com uma conferência de imprensa com os músicos e os seus instrumentos, hoje sábado no Conservatório Regional, tendo lugar um primeiro concerto nas portas dos Mar às 21h30.
Domingo há um workshop de viola da terra no Centro Paroquial e Social da Ribeira Grande com um concerto na Igreja da Ribeira Quente.
Todos os eventos são abertos ao público em geral e de acesso gratuito. “Este encontro é muito importante para que os tocadores de viola de arame e também de outros instrumentos tradicionais se reúnam e percebam as particularidades destes instrumentos”, explicou Rafael Carvalho, que a par de tocar, também faz parte da organização do evento. *
II ENCONTRO DE VIOLAS DE ARAME PORTUGUESAS
Horário de início: sábado, 3 de julho de 2010 às 21:30
Horário de término: domingo, 4 de julho de 2010 às 21:30
Localização: São Miguel
II Encontro de Violas de Arame com:
José Barros - Viola Braguesa
Pedro Mestre - Viola Campaniça
Rafael Carvalho - Viola da Terra
Vitor Sardinha - Viola de Arame - Madeira
Participação Especial:
Chico Lobo - Viola Caipira Brasil
3 de Julho:
11:00 Conferência "Violas de Arame" no Conservatório Regional
21:30 Concerto na BAIA DAS PORTAS DO MAR
4 de Julho:
15:00 Workshop de Violas de Arame (Centro Paroquial da Ribeira Quente)
21:30 Concerto - Igreja de São Paulo - Ribeira Quente
(Transmissão online em www.ribeiraquente.com)
Se bem se lembram o primeiro encontro teve lugar en Setembro do ano passado em Castro Verde, no decorrer do Festival Mediterrânico Sete Sóis,Sete Luas, o seu enorme êxito foi assinalado aqui no teu blogue, desta forma:
"OFICINA DE VIOLAS DE
ARAME, UM EVENTO DE
EXCELÊNCIA NO PROGRA-
MA DOS "SETE SÓIS"
A matéria da crónica de hoje sobre os "Sete Sóis" versa sobre, o que foi para mim, o evento mais conseguido, mais completo, mais eficaz, do ponto de vista das consequências para o futuro, que foi o Encontro de violas de arame, ou a designação escolhida para o Programa dos "Sete Sóis", o de "Oficina de Violas de Arame".
A viola portuguesa chegou aos nossos dias sob várias designações, tais como: Braguesa,Ramaldeira,Amarantina,Toeira,de Arame,da Terra,Campaniça e até mesmo a Caipira de Minas Gerais.
A Oficina de Violas decorreu na Antiga Fácrica de Moagem Prazeres e Irmão, durante 3
dias,numa organização da Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções Culturais integrado na Programação dos Sete Sóis.
PEDRO MESTRE DANDO INICIO À "OFICINA"
No primeiro dia, isto é Sexta feira ,11, quando lá cheguei, e fui dos primeiros, confesso que não me tinha ainda apercebido ,nem preparado, para a dimensão do que ia encontrar, vêr e ouvir.
Em duas mesas uma vasta documentação sobre a "Oficina", sobre violas campaniças, notas biográficas sobre os participantes, chaves de afinação das várias violas, enfim, a eficácia da organização da "Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções" a tender para a plenitude...
Na pequena sala da "Fábrica", juntaram-se, nada mais,nada menos, que os maiores tocadores de viola "strictu sensu", seja de arame,braguesa,campaniça,da terra e caipira.
Salvo o exagero, este encontro de Castro Verde na "Fábrica", significou para a viola de arame em sentido lato, o que Nashville e o Big Ole Opry nos Estados Unidos, significou e ainda significa para a coutry music nos States.
Naqueles pequenos metros quadrados da antiga fábrica de moagem em Castro Verde, tivémos juntos a tocar e a trocar ideias, virtuosidades e dicas para o futuro, tocadores como: Mestre Manuel Bento,Pedro Mestre,Amilcar Martins da Silva e Márcio Isidro pela viola campaniça alentejana, Vitor Sardinha pela viola de arame madeirense; Rafael Costa Carvalho pela viola da Terra dos Açores e José Barros pela viola Braguesa de Braga.
A metodologia escolhida para o evento, foi a de estender pelos 3 dias a exposição oral e execução prática nas suas violas ,dos tocadores das 4 violas em análise.
Assm, no primeiro dia assistimos à exposição oral dos dois tocadores que vieram das ilhas: O Rafael Costa Carvalho dos Açores , e o Vitor Sardinha da Madeira.
O primeiro foi o Rafael, que nos falou sobre a viola da terra, contando a sua
história, descrevendo a sua composição física, explicando a simbologia das suas
marcas e adereços, enquanto dedilhava exemplificando as técnicas de execução.
Ficámos a saber que a Viola da Terra terá surgido nos Açores na segunda metade do século XV, levada pelos primeiros povoadores.
A Viola da Terra que também é conhecida por Viola de Arame, ou Viola dos Dois
Corações, era, e é, acompanhante natural de todos os cantares festivos,balhos,derriços,desgarradas, desafios e despiques, e também dos devaneios sentimentais, líricos e amorosos.
Por entre risos o Rafael esclareceu ainda que a viola da terra tem um espelho embutido entre a cabeça e a escala, que , explicou, deriva da vaidade dos tocadores açoreanos, que quando se ausentavam de casa para tocar em festas e balhos pernoitando fóra, utilizavam o espelho para se barbearem.
De palavra fácil, discurso escorreito, o Rafael foi explicando que os 2 corações que configuram a boca da viola da terra, simbolizam a saudade do coração que parte, que emigra e a saudade do coração que fica. Os dois corações estão ligados por um cordão umbical a uma lágrima, a lágrima da saudade.
A lágrima tem a forma de um ás de oiros que representa a busca da fortuna, afinal, o objectivo dos emigrantes .
Ao entrar na fase da execução, o Rafael salientou aquilo que faz a principal diferença na técnica utilizada pelos tocadores açoreanos - a utilização do polegar - tocando alguns trechos com grande virtuosismo, arrancando os aplausos conhecedores da sala.
O segundo tocador da tarde do primeiro dia foi o madeirense Vitor Sardinha, que nos veio apresentar a viola de arame.
A viola de arame é a viola da Ilha da Madeira.
Tal como o Rafael, o Vitor Sardinha é também professor de viola ,ele no Conservatório de Música da Madeira, e por isso também habituado a falar em público, revelando-se também ele, um grande comunicador.
Vitor Sardinha esmiuçou também ele a sua viola, integrando-a no grupo mais lato da viola portuguesa.
Instrumento com 9 cordas, com uma afinação do agudo para o grave na sequência ré-si.sol.ré.sol .
Salientou a importância da localização geográfica da Ilha da Madeira, com o seu porto Atlântico e a emigração insular a influenciar decisivamente o toque, os sons e e o timbre da viola de arame madeirense.
Mais perto de Africa e das Canárias do que do Continente, do qual esteve aliás ,longe, aquando da ocupação inglesa, e com uma forte ligação maritima com o Brasil, e Cabo Verde, a viola madeirense bebeu muito das influências tropicais e africanas.
Ficámos ainda a saber que a viola de arame madeirense é o instrumento predilecto para acompanhar as charambas, as mouriscas, o bailinho e o baile da meia volta, este ultimo do Porto Santo.
E Vitor Sardinha passou à execução igualmente virtuosa e dialogante que a todos prendeu, arrancando os aplausos entusiasmados da sala.
No final, do dia, os presentes foram convidados a empunhar as suas violas, e numa
roda de tocadores, onde além dos quatro conferencistas figuravam mestres como Manuel Bento, Amilcar Martins da Silva, Marcio Isidro e outros.
Foi um momento alto da tarde.
No segundo dia da Oficina, voltei à velha sala da`"Fábrica".
Voltaram os dois tocadores insulares a enriquecer o nosso conhecimento, com mais detalhes sobre as suas violas, e a sua arte.
Seguiu-se a primeira apesentação do tocador José Barros a "defender" a sua viola, a braguesa.
Neste segundo dia, houve maior diálogo com a sala, com oportunas intervenções do Prof. Domingos Morais, que ajudaram a preencher lacunas do conhecimento no que concerne às violas.
Ficámos a saber que a viola braguesa é um instrumento popular do noroeste português entre o Douro e o Minho, sendo indispensável nas rusgas minhotas, nas chulas e desafios, as formas músico-instrumentais dominantes na região..
José Barros defendeu com veemência e muito humôr a "superioridade" da braguesa face às irnãs presentes (risos) ,demonstrando na execução que com a braguesa se toca tudo o que existe e o que se quizer.
Tal como na tarde do dia anterior, chegou depois a apetecida roda de tocadores,
soltaram-se os talentos e no ambiente familiar com que sempre decorreu a "Oficina", aconteceu uma festa dos sentidos.
No final dessa tarde , os quatro magnificos tocadores das quatro violas actuaram no Jardim do Padrão, num evento do qual falarei postermente.
No ultimo dia, os dois tocadores das ilhas e o José Barros concluiram as suas intervenções com brilho , e ainda maior virtuosismo.
O Rafael diria no final da sua intervenção que ainda não tinha partido e já tinha saudades de Castro Verde, e disseo com emoção.
Também eu, no decorrer da parte final da roda de tocadores, que como habitualmente
se seguiu ,me apercebi , já ter saudades daqueles momentos mágicos que naquela sala passei, a ouvir os magos da viola de arame.
Têm de voltar.
Prometam!"