quinta-feira, abril 11, 2013

FESTIVAL DE MUSICA SACRA TERRAS SEM SOMBRA, SÁBADO, 13 , EM ALMODÔVAR


SÁBADO, 13 DE ABRIL NA IGREJA DE
SANTO ILDEFONSO EM ALMODÔVAR
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A igreja de Santo Ildefonso, matriz de Almodôvar, recebe no próximo sábado, dia 13, abertura da 9.ª edição do Festival Terras sem Sombra. Este ano, a temporada musical promovida pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja estende-se até 13 de Julho e é consagrada à polifonia. O arranque faz-se com um título promissor, Arquitecturas do Espírito, que evoca uma das marcas distintivas do FTSS: associar os mais belos monumentos religiosos do Alentejo meridional às grandes páginas da música sacra, antiga e contemporânea, através da interpretação de alguns dos melhores intérpretes da actualidade, nacionais e estrangeiros. Raquel Alão, soprano portuguesa, e Marifé Nogales, mezzosoprano espanhola, duas vozes já reconhecidas nos palcos europeus, e o Concerto Moderno, orquestra de cordas dirigida por César Viana, trazem à alma mater almodoverense um programa de excepção: o Adagio e Fuga, K. 546, de W. A. Mozart, o Requiem de Takemitsu, e o Stabat Mater, de Pergolesi. Três momentos fulgurantes da evolução da tradição polifónica na música ocidental que partilham de uma raiz espiritual comum, a meditação sobre o sentido da vida e da morte, realidade que cruza transversalmente a consciência europeia e, além dos seus ressaibos éticos e religiosos, tem uma dimensão artística profundíssima.

O Terras sem Sombra, concebido como uma “pequena História da Música”, é um festival de histórias. Algo que os artistas e os espectadores gostam de partilhar e saborear. Nesta óptica, o Stabat Mater constitui uma verdadeira referência. De facto, poucos se mostrarão insensíveis à sua beleza profundamente comovedora. Menos conhecidas, porém, são as circunstâncias em que surgiu tal obra-prima. Giovanni Battista Pergolesi, famoso compositor de Nápoles, escreveu-a em 1736, por encomenda da Confraternità dei Cavalieri di San Luigi di Palazzo, dessa cidade. O autor, apenas com 26 anos de idade, encontrava-se já gravemente afectado pela tuberculose, a recolhera-se à protecção do convento franciscano de Pozzuoli, na esperança de melhorar um pouco a saúde. Porém, os cuidados dos frades não foram suficientes para atenuar a fatalidade da doença fatal e Pergolesi dedicou os últimos dias da sua curta existência, quase agonizante, a este Stabat – um impressionante hino de fé na vida.

Mozart nasceu 20 anos após a morte de Pergolesi, mas continuou, com brilhantismo, as tradições do Barroco. Ignoram-se as razões que o levaram a escrever o Adagio e Fuga em dó menor, mas é bastante claro que o contacto com a música italiana exerceria forte influência na sua composição. As duas partes da peça – o Adagio e a Fuga – foram escritas em alturas diferentes. A Fuga data de 1783 e foi pensada originalmente para dois pianos (K. 426), num estilo deliberadamente arcaico. Mais tarde, em 1788, provavelmente para uma das sessões em casa do seu amigo barão van Swieten, adaptou a mesma Fuga a quarteto de cordas e juntou-lhe o Adagio. O conjunto assim formado conta-se entre as obras mais sérias e intensas de Mozart.

Entre Wofgang Amadeus e Pergolesi, o concerto de Almodôvar destaca um grande mestre do século XX, o período mais multifacetado da história da música. O japonês Toru Takemitsu foi um dos compositores que apostou no diálogo entre as heranças musicais do Oriente e do Ocidente. Autodidata, estava em posição para observar de forma distanciada e repensar o conjunto de influências da música ocidental que o marcaram, dos impressionistas franceses a Stravinksy, Webern ou Cage. Não pretendeu nunca moldar uma cultura musical à outra, ou misturá-las, mas encontrar uma essência comum às ambas, capaz de elevar a condição humana. O Requiem para orquestra de cordas, escrito em 1957, trouxe-lhe o reconhecimento internacional. O título é elucidativo. A obra puramente instrumental surge imbuída de uma melancolia imensa e avança através da cuidada gestão da textura, harmonia e cor, mas sem temas distintos. Apesar da densidade sonora, este Requiem é, em toda a sua tragédia leve, impalpável, como a dor.

Músicos associam-se à comunidade local para salvaguardar a biodiversidade

A primeira acção de sensibilização ambiental promovida pelo Festival em 2013 centra-se na biodiversidade da ribeira do Vascão e está ligada às comemorações do Ano Internacional de Cooperação pela Água, em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e a Associação de Apicultores do Parque Natural do Vale do Guadiana. No domingo de manhã, às 10h30, os artistas “descem do palco” e juntam-se à comunidade local, para um encontro marcado junto ao curso fluvial. A acção visa a conservação dos ecossistemas ribeirinhos deste importante afluente do Guadiana, recentemente classificada como Sítio RAMSAR – Zona Húmida de Importância Internacional. Reveste-se, pois, de valor, sendo o ponto alto as acções de pesca direccionadas para as espécies exóticas (principal ameaça dos ecossistemas ribeirinhos), de modo a preservar o equilíbrio de uma importante fronteira natural entre o Alentejo e o Algarve.

Sendo a apicultura uma das actividades com maior expressão económica na região, os participantes poderão ainda contactar com esta actividade, que tem, neste território serrano, características excepcionais, vinculadas à diversidade e à qualidade da flora, e cujo produto final é o tão conhecido mel de Almodôvar. Para os mais corajosos será promovida a visita a um apiário próximo da ribeira, de modo a conhecerem, de perto, os meandros de uma actividade ancestral, confiada tradicionalmente à tutela de Santo Ambrósio, o padroeiro dos apicultores. Também o pão, os enchidos, e as ervas aromáticas serão lembrados, havendo ocasião para a degustação de todos estes produtos regionais.