sexta-feira, fevereiro 27, 2004

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Soneto que dediquei à Mariana
na Primavera de 2001, após
ter lido o seu livro de Poemas

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SONETO PARA MARIANA
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Silhueta leve e frágil
olhos negros, grandes, expressivos
solta sorrisos evasivos
tem verbo fácil, palavra ágil
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Mariana, sua graça escolhida
Alentejo, seu berço de raiz
Castro Verde, Castelinho ,sua matriz
Embora no Algarve nascida
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Encanta pela simplicidade
alegra, pelo seu humôr
surprende, que com tão pouca idade
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Junte com tanto vigôr
palavras como solidariedade
ternura, paz e amôr.
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JÚLIO

sábado, fevereiro 21, 2004

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HOMENAGEM À MINHA FAMÍLIA ALENTEJANA
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Não sendo alentejano de nascimento, considero-me já um deles por adopção.
Ainda com verdes anos, tive o privilégio de "entrar" para uma família do Baixo Alentejo, e com o decorrer dos tempos, (já lá vão trinta e tal Verões , para não falar em Invernos e nas outras estações) tem sempre vindo a crescer a minha admiração , o meu respeito e a minha integração no seu mundo.
Desde o ínicio, me impressionou, o seu sentido de solidariedade, a sua grande abertura, desprendimento e sobretudo a sua forma de receber os forasteiros.
Há sempre um lugar à mesa, por mais desconhecido de quem chegue, há sempre uma cama que se "ajeita", qualquer que seja o espaço que se tenha.
A minha primeira visita ao Alentejo, por alturas da Feira de Castro de 1968, permanece na minha memória como um marco prazeiroso, da minha ligação àquela terra (Castro Verde) àquela região, e àquela família, que desde então , passou também a ser a minha.
Filho único, eis que num só dia, (o da chegada) , passei a conhecer não um , mas uma mão cheia de "irmãos" , sobrinhos e novos primos às dezenas. De tantos beijos, apertos de mão e abraços, dei por mim, pois então, a cumprimentar até, os que depois soube, nem todos eram familiares, ou mesmo conhecidos. Mas na Feira, e no Alentejo é mesmo assim, soube-o mais tarde, sei agora.
A ideia deste blog, é pois, para além dos motivos que aduzi, aquando da sua criação, uma homenagem que quiz, e quero prestar ,à grande alma alentejana, e o grande valôr que atribuo à oportunidade de neste espaço, pôr toda a família a participar, quer escrevendo poemas, quer contando estórias que façam reviver as suas orgulhosas memórias.


Júlio

sábado, fevereiro 14, 2004

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AS MATANÇAS
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DE

JOSÉ FRANCISCO COLAÇO GUERREIRO..
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.Vêm dos montes, dos bastios sombreados, arrojam-se para a morte sob as arrobas de carne posta por fartanços de bolota e lande ,mais de alguma guloseima apanhada para desenfastiar. No verão correram os restolhos à cata de espigas e espiolharam os pegos lodosos com a cegueira dos almeijões .Mas não foi daí que lhes veio o peso.
Até meados de Outubro andavam ligeiros, corriam como centelhas deste poiso para aquele, fossando e revolvendo pedras e torrões à pus da bicharada. Mas logo que as bolotas começaram a arraiar e as mangaras desataram a pingar, era vê-los de fujota de arvore para arvore, com as orelhas afitadas para pressentirem onde podiam morder as caídas.
Daí para diante, abancavam de manhã à noite de focinho pregado ao chão , solvendo as soleiras das boletas ,desprendidas dos cascabulhos por força do vento ou varejadas pelo porcariço , preocupado com a engorda da vara com que tinha encabeçado o montado.
Apetecia-lhes agora beber mais amiúde que o costume e de quando em vez abocanhavam o ervaçum para refrescarem as bocas escaldadas pelo tasquinhar continuado.
De dia para dia viam-se aumentar. Desapareceu o espinhaço, cresceu-lhes a papada,ficaram corpulentos.
Já nem dão trabalho com as escapadelas para as semeadas. Comem, comem e de quando em vez jogam os joelhos a terra para descansar.
Por fim, redondos e lustrosos já lhes custava ir beber à ribeira duas vezes por dia. Nas horas mais quentes deitavam-se e dormiam com grande afegada. Para se levantarem , tornou-se o cabo dos trabalhos. Tinha de ser a prestações. Primeiro erguiam-se nas patas dianteiras ,de cu a rojo, e só depois em solavanco se alçavam.
O maioral andava satisfeito e o patrão outro tanto ou ainda mais. Tantas arrobas a tanto, dava tanto. Aquilo não se sabia ao certo, nem se podia saber, só a olho, o peso da carne toda, porque uns eram maiores e outros mais pequenos, mesmo que manos da mesma ninhada. O que valia era a média , não se podia fazer a conta pelos mais estrigados nem pelos outros que pareciam barcas, mas eram os menos .
Em três meses fizeram-se para a faca.
Uns para aqui, outros para ali, todos foram apreçados e já tinham o rumo marcado.
E assim abalaram em dias marcados pelas estradas velhas, deixando os montados, a caminho das bancas ,onde as facas sem dó nem piedade lhes ditam o destino, ficando no ar os gornidos profundos que nos marcam a memória das matanças.
Depois é a festa, a azáfama, o sangue, o vinagre, os alhos, o colorau ,a pimenta, os cominhos. A gordura e os cheiros. A moleja, as cacholas fritas. As banhas, os torresmos ,os lombos, as espáduas, os presuntos, as linguiças ,as chouriças e os paios. A carne frita, a manteiga de pingo .As queixadas assadas, a língua de fricassé ,as orelhas de coentrada .As folhas de toucinho arrecadadas no sal. O saber e os preceitos. Os varais no fumeiro. Os sabores um ano inteiro.
Ritual que se repete todos os Invernos, quando os frios chegam para curar as carnes e nos campos a fartura acaba, para poder acrescer, nem tão pouco para manter, as arrobas postas por uma comezaina rica.

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CASTRO VERDE

Porque a maioria dos frequentadores da Casa das Primas são oriundos das regiões de Castro Verde e Almodôvar , e apenas eu (o Júlio) ser de Lisboa, embora hoje em dia, e após mais de 35 anos de ligação estreita com bons alentejanos, já me sinta, não só da família, mas também mesmo ,mais um "alentejano", vou publicar neste blog, alguns textos sobre estas vilas e regiões.
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...A antiga vila surgiu junto a uma fortaleza que se levantou no cimo de um cabeço a 1,7 Km a norte da margem esquerda da Ribeira de Cobres e a 2 Km a Sudoeste da margem direita do Ribeiro de Terges.

A sua fundação é muito remota, desconhecendo-se a sua origem, sabe-se no entanto, que no começo da monarquia Lusitana já era habitada.

Pensa-se que a origem do povoado terá as suas raízes na cultura Turdetana, passando mais tarde por um acampamento militar romano, como a origem do seu topónimo " Castrum Veteris " assim o indica, bem como a planta do núcleo antigo da povoação, de forma quadrangular e com um traçado viário ortogonal, típico dos acampamentos romanos, diferencia-se da tradição hurbanistica do Sul do território nacional.




A implantação do território sobre uma pendente pouco acentuada, terminando junto a uma linha de água de certa expressão, bem como a dimensão da àrea ocupada, enquadrando-se na descrição dos acampamentos militares.

Crê-se que a vida urbana se iniciou em Castro Verde após o abandono do acampamento pela legião, como era práctica corrente na época, uma parte considerável da população que habitava as "canabae" (acampamentos de pequenos comerciantes, artíficies, etc, que acompanhavam as legiões), bem como indígenas da região, tenham ocupado o "Pomerium" (acampamento romano), imediatamente após o abandono da construção defensiva pela legião.

Acredita-se, que a rede viária hurbana se manteve e as edificações se foram desenvolvendo ao longo de todo o período clássico e de Idade Média.

É também possível que os Romanos tivessem conquistado a fortaleza Lusitana em meados do Séc. II A.C. (cerca de 150 anos antes de Cristo), transformando-a numa base militar de ocupação e guarda da estrada militar que, vinda de Aljustrel, prosseguia para Ossobona (perto de Faro).

Desconhece-se a data em que foi tomada aos Mouros.

Foi em CastroVerde e segundo a lenda que se deu a famosa batalha de Ourique, apontando vários historiadores o local de São Pedro das Cabeças como o local exacto desse acontecimento, lenda essa que descreve a aparição de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques e a sua gloriosa vitória contra cinco reis Mouros.

A região de Castro Verde enquadra-se, desde o Período do Bronze do Sudoeste (II milénio A.C.), numa àrea cultural vasta que se designa por cultura Turdetana.

Durante a Proto-História, na primeira Idade do Ferro,e numa fase em que os contactos com povos do mediterrâneo foram assíduos e próximos, que se designa por Período Orientalizante, o Baixo Alentejo e o Algarve desenvolveram uma subcultura especial (dentro de Turdetana) comumente chamada Tartéssica ou de Sudoeste.

A primeira Idade do Ferro e o Período Orientalizante, permitiram definir uma facies local, que foi designada por Neves Corvo e que se caracteriza, principalmente, por rituais funerários próprios, para além da aplicação da escrita a fins não relacionados com o culto dos mortos, bem como pela existência de povoados e habitats de tipo patriarcal alargado, sem vestígios de estroturas defensivas.

A existêmcia desta facies no concelho de Castro Verde, relaciona-se com a presença de minérios, nomeadamente a prata e o chumbo, em ocorrências filonianas superficiais, o que os colocava ao alcance da tecnologia extractiva da época.

Existem no concelho de Castro Verde alguns Castros (designação para os castelos da segunda idade do ferro, na gíria arqueológica), como é o exemplo do Castro do Montel (Castelo Grande de Cobres), que fica situado na freguesia de Entradas.

O concelho de Castro Verde revelou materiais arqueológicos de origem romana, datando dos finais do séc. III, inicios do séc. II A.C.

Foram identificados 22 monumentos de fundação Augusteia que pontuam uma faixa que se estende de Castro Verde ao sul de Alcoutim. A tradição popular chama-lhes "Castelos", porque são constituidos por três recintos quadrangulares concêntricos, que ocupam o topo de pequenas colinas, o seu edificio central é sempre dotado de paredes muito espessas que lembram de facto muralhas.

A dominação romana está amplamente documentada na aldeia de Santa Bárbara de padrões, através de um conjunto arquitectónico descoberto junto da igreja e cemitério e por numerosos vestígios que se espalham por toda a povoação.Leite de Vasconcelos propôs, em 1986,a classificação destas ruínas, como de uma cidade romana que se identificou hipotéticamente, com Arannis.

Até ao século XIX o progresso económico de Castro Verde basear-se-ía não tanto na agricultura devido aos seus solos fracos, mas na pecuária e no facto de ser local privilegiado de passagem e cruzamento de vias comerciais que do sul algarvio conduziam à planície alentejana e que do litoral Oeste, devido à importância de Vila Nova de Milfontes como porto de pesca e comércio, demandavam o interior e a sua capital, Beja.

No século XIX, o Liberalismo teve mais um reflexo no concelho. Com efeito, a região sofreu incursões das guerrilhas miguelistas do Remexido e dos Baioas de Beja, que ficaram registados na tradição popular e nalguma toponímia.

Nos finais do século XIX, a cerealícultura tornou-se um dos maiores factores produtivos da região, tendo mesmo sido reforçada esta opção, nos primeiros decénios do século XIX, durante os quais se assistiu a um certo bem estar económico, que se reflectiu no hurbanismo da sede do concelho, tanto no edificio da Câmara Municipal como em residências privadas.

A partir dos anos 50, o concelho entrou em fraca regressão, um pouco colmatada pelo surto migratório, e actualmente, pela instalação do complexo mineiro de Neves- Corvo.

Castro Verde, experimentou, por via da Mina , um grande aumento de perimetro, e de construção, nunca , porém se descaracterizando, É mesmo, hoje por hoje, das vilas mais bonitas e com melhor qualidade de vida do Baixo Alentejo.

A sua vida cultural sofreu, também ele, um grande incremento, quer com infra-estruturas , quer com inúmeras iniciativas voluntristas de castrenses que não se acomodam.




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Poema especialmente escrito por mim
para ser adaptado à musica de duas
baladas alentejanas que se entrecruzam


ALENTEJO
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Alentejo nossa terra
onde um dia voltarei
Castro Verde ,Porteirinhos
berço donde abalei
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Para longe pr.a Lisboa
eu parti
à procura de trabalhO
consegui
tristeza, solidão
eu venci
de angústia, de saudade
quase morri.
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Alentejo, minha terra
onde um dia voltarei
Testa, Monte da Ribeira
juro que, sempre te amei.
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Cá de longe no Feijó
nos juntamos
a saudade do Alentejo
nós matamos
a memória doutros tempos
nós cantamos
as estórias lá dos montes
nós recordamos.
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Alentejo minha terra
onde um dia voltarei!!!!

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

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ALENTEJO , TU ÉS LINDO
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Alentejo na Primavera
é lindo, cheio de flores
azuis, roxas, amarelas
eu sei lá de quantas côres.
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Seja Outono ou Primavera
quer seja Inverno ou Verão
Alentejo tem beleza
numa qualquer estação.
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Vejam lá que bem que cheira
a flôr do rosmaninho
do poejo e do mantrasto
que se encontra no caminho.
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E que bonito é vêr no campo
os rebanhos a pastar
o pastor com o seu cajado
e o cão para ajudar.
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Alentejo tu és lindo
tens beleza, tens encanto
tu tens tantas maravilhas
por isso te queremos tanto.
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E quando chega o Verão
todo o campo está dourado
já está o trigo maduro
à espera de ser ceifado.
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É bonito de manhã
ouvir-se muito cedinho
aquele cantar tão lindo
como é o do passarinho.
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E os grilos cantam, cantam
até essa noite fóra
e depois começa o galo
assim ao romper d.aurora
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Quem vive numa cidade
não pode avaliar
todas estas maravilhas
que aqui estou a falar..

Poema de
NATÉRCIA MARIA