sábado, janeiro 14, 2006

Poesia popular alentejana

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Em todo o Alentejo existem muitas pessoas que usam a poesia para se exprimir em muitas situações. Geralmente em grupos de amigos, à volta do petisco, acompanhado do bom copo de vinho que dá asas à inspiração. Por isso há mais homens do que mulheres a fazer poesia. A poesia popular alentejana deve ser divulgada e protegida. Uma das formas de poesia popular são as Décimas. As Décimas são versos ditos de cabeça e têm regras rígidas de rima:

- o primeiro rima com o quarto e o quinto versos; o segundo com o terceiro; o sexto com o sétimo e o décimo; o oitavo com o nono.
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DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos)
in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias,

És jovem, sou reformado
Tu tens o mundo na mão;
Olha bem para o meu passado
Luta sempre p'la razão.

Se eu tivesse a tua idade
Tua força e valentia
Com certeza arranjaria
Outra nova sociedade
Onde houvesse só liberdade
Mas ninguém fosse roubado
Nem o povo explorado
Que já vem de antigamente
Tu tens o futuro à frente
És jovem, sou reformado.
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És livre e podes votar
Vivemos em democracia
Até que enfim chegou o dia
Para o país libertar
Agora podemos falar
Dizer a nossa razão ???!!!)
Não temer a reacção
Dos gulosos egoístas
Dar o fim aos parasitas
Tu tens o mundo na mão.
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Foi bem triste o meu viver
Nos campos e nas fábricas
Às vezes bebia as lágrimas
E nada podia dizer
Tantos anos a sofrer
Mal comido e mal tratado
E nas prisões torturado
Pela nossa autoridade
Só por dizer a verdade
Olha bem o meu passado

Lutando com garras e esperança
Nós havemos de ganhar
Nunca deixes de lutar
P'ra destruir a vingança
É preciso ter lembrança
De quem me roubava o pão
E me chamava ladrão
E deixava-me envergonhado
Tu não lutes enganado
Luta sempre p'la razão