domingo, outubro 21, 2007

A FEIRA EM NOITE DE BALDÃO

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A noite de Baldão é, na opinião de alguns, entre os quais me incluio, o ex-libris da actual formula da Feira de Castro.
Há pessoas que procuram a Feira, principalmente para o verem e ouvirem , o que em termos culturais, faz a diferença , na relação com outros eventos do género.


O Baldão é uma tradição trovadoresca do sec XVIII, mantida na zona de Castro Verde, Odemira, Ourique e Serra de Odemira.
Nos seus inicios, havia gente que se juntava numa barraca, se sentava à volta duma mesa, onde, por tradição só se reuniam os melhores, e cantava despique e baldão o tempo todo da feira.
O Baldão obebece a uma métrica poetica muito singular, e como é repentista, faz este tipo de cantar, uma arte de dificuldade acrescida.
Atacar e responder num dado momento certo, e fazê-lo com rapidez.
Este ano o Baldão voltou a ter lugar na Feira de Castro, para alguns a verdadeira Catedral do Baldão, assim como o Big Hole Opry em Nashville é para a Folk Song norte americana.



E realizou-se no Restaurante Solposto, om som e imagem de melhor qualidade e visibilidade para este tipo de eventos.
Estiveram em liça 30 tocadores acompanhados pelo Papa das violas campaniças, o Mestre Manuel Bento e o seu delfim o Pedro Mestre.

"A cultura e o Baldão
Vêm sempre pela Feira"

cantaria um dos cantadores.

O espectáculo começou pela entrega de um presente ao homenageado deste ano, o ANTÓNIO DE PINHO.

Todos os anos, no final do espectáculo de Baldão, os cantadores presentes, votam entre si, no nome do cantador que no ano seguinte vai merecer a distinção de ser homenageado .
Em 2006, foi o António e Pinho o escolhido.

Emocionado, agradeceu aos colegas e à Cortiçol, organizadora do evento, a distição e coube-lhe a ele iniciar o cante da noite.

Após uma primeira volta à mesa em que todos homenagearam o homem da noite:

"Estou a fazer homenagem
a este meu amigo António de Pinho
abalei da minha terra
e fiz bem este caminho
que é para o pôr à vontade
e é homem de coragem
ao amigo António de Pinho
estou a fazer homenagem"
Começou a ganhar força o que seria o tema da noite - a cultura.

"Eu vou vêr se sou capaz
de fazer boa figura
vem sempre pela Feira
o baldão e a cultura"


O tema surgiu e cresceu ao longo da noite, como reacção ao comportamento de um grupo de jovens, que na outra ponta da sala, numa atitude desreipeitosa, ignoraravam o esforço dos cantadores, e fazendo um barulho ensurdecedor, com gritos e berros estridentes, perturbavam a concentração dos cantadores.

"O Baldão é tão bonito
e é para quem o cante bem
é uma cultura bonita
e há por aí quem não a tem"

cantaria um dos cantadores

"..
e há quem pense que tem cultura
e não saiba respeitar"

diria outro

E assim prosseguiu noite dentro até que a voz se lhes cansou.