.
texto de José Francisco Colaço Guerreiro:
VIOLA CAMPANIÇA – UM PERCURSO DE MEMÓRIAS E AFECTOS
A Viola Campaniça, juntamente com o Grupo Coral “As Camponesas”, O Grupo Coral Infantil “ Os Carapinhas”, a Cortiçol/Rádio Castrense e a coleção de Lucernas de Santa Bárbara, ocupam dentro de mim, aquele espaço muito especial que cada um de nós reserva ao encanto do que é mágico.
Estávamos no final da década de oitenta e em Castro Verde, assim como nas redondezas, não se ouvia, desde há décadas, falar na viola campaniça. Só os mais velhos guardavam, bem no fundo da memória, as lembranças boas das consecutivas noites de despique, por ocasião da feira, quando para aqui confluíam tocadores e cantadores afamados de todo o sul da pátria Alentejo.
A Rádio Castrense , na altura, fazia neste concelho as suas primeiras emissões e nós produzíamos um programa radiofónico onde queríamos dar visibilidade às coisas da terra, às tradições vivas, ao sentir coletivo. De gravador na mão, captávamos testemunhos sonoros do saber identitário da nossas gentes que depois reproduzíamos, como quem semeava a esperança nas ondas hertzianas.
Foi então que nos chegou ao conhecimento a existência de uma viola antiga em casa de um vizinho do Chico do Moinho que lhe ajudava na amassaria e a meter e tirar os pães do forno de lenha que ele tinha na Estação de Ourique.
Um belo dia, metemos-nos a caminho, buscámos o forno, procurámos o dono da viola, encontrámos o Francisco António, o Chico Bailão, morador mesmo ali em frente.
Entre duas fornadas, o forneiro e tocador, rejubilando, mas sempre advertindo que era uma coisa sem importância , velha e desafinada, a viola que guardava deitada ao comprido por cima do guarda fatos, levou-nos à casa dele, ali ao atravessar da rua.
Passámos pela casa de fora e mandou-nos sentar na sua sala e cozinha, ficando a mulher a mimar-nos com simpatia, enquanto o tio Chico foi ao quarto da cama buscar a sua viola. Desse dia fantástico guardamos ainda o deslumbre dos sons.
Da conversa resultou que para além dele, haveria ainda outro tocador de campaniça morador na Funcheira, um seu sobrinho Manuel Bento.
Da Estação de Ourique para a Estação da Funcheira, fomos interiorizando o espanto, o encanto e o entusiasmo que nos ficaram, de ver e ouvir aquela viola e de sentir as sonoridades das modas que o Francisco António cantou.
Levávamos connosco o fascínio dos sons que nos atiraram para um outro tempo, para uma outra época, para um outro Alentejo, como lhe chamou o Dr. J.A. Sardinha .