quarta-feira, junho 22, 2016

CASTRO VERDE

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UMA VILA COM HISTÓRIA E HIJE
EM DIA CHEIA DE JUVENTUDE




Castro Verde é uma vila simpática e jovem que não desilude quem procura história e tradições. Descubra dois dos aspectos que a marcam mais claramente: o património religioso, que tem como ponto alto a Basílica Real.


Estacione na Praça da República, que fica nas traseiras da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, ou das Chagas do Salvador. Segundo a tradição, terá sido fundada por D. Afonso Henriques para comemorar a sua vitória sobre o Infiel.

No século XVII, estando o templo muito destruído, Filipe II toma providências para que seja restaurado, e, para angariar fundos, inicia-se, em 1620, uma feira que irá suportar os seus custos até 1834: a famosa Feira de Castro. Hoje, após muitas modificações no edifício, continuam a merecer visita os óleos de Diogo Magina (1763–67), alusivos à Batalha de Ourique. No lado oposto, ergue-se a Casa dos Alegres, uma das mais antigas e importantes de Castro Verde. Siga pela Rua D. Afonso Henriques, reparando, logo no início, nas dimensões invulgares das chaminés de algumas casas, e suba, junto ao gradeamento, até à Praça do Município, ladeando o jardim.

Na casa de dois pisos de finais do século XIX, revestida de azulejos, está prevista a instalação do futuro Museu de Castro Verde. Mais à frente, note a pequena casa com um encantador friso arte nova representando aves e, um pouco antes da Câmara Municipal, uma curiosa construção, o Castelo das Perdizes, mandada fazer pelo lavrador José Figueira para servir de gaiola. As velhas casas no mesmo local eram os celeiros da Comenda de Santiago.

Junto à Câmara Municipal, instalada noutra imponente casa de lavradores de finais do século passado, ergue-se a jóia de Castro Verde, a Basílica Real, com um agradável miradouro. Portador de uma história antiga, o actual templo, de traça barroca, foi mandado construir por D. João V. No interior, com paredes cobertas de azulejos em dois padrões, destaca-se o altar-mor, de talha dourada, e um interessante friso azulejar que ilustra detalhadamente a Batalha de Ourique.

Desça a escadaria novamente para a Rua D. Afonso Henriques e continue na mesma direcção. Passe o casarão ocre e, chegando ao Largo da Misericórdia, visite a igreja, com as suas abóbadas de cruzaria e pinturas a tinta de água. Continue a descer pela Rua Dr. António Francisco Colaço e repare, logo no início, na Fábrica de Moagens Prazeres & Irmão, relíquia de uma época em que o concelho era rico em cereais.

Mais à frente, numa casa térrea do século XIX, com uma engraçada água-furtada que, de tão desproporcionada, quase esmaga o edifício, nasceu Haley Colaço no dia da passagem do célebre cometa. Vire à direita para a Rua da Aclamação, rua de traseiras de quintais e casões. Aqui encontra uma instituição da vila, a taberna do João das Cabeças, onde se petiscam cabeças de borrego assadas no forno, à noite se canta e, pela Feira de Castro Verde (Outubro), se realizam os encontros de Despique e Baldão.

Suba a rua até ao topo, cruzando a Rua Campo de Ourique, e prossiga pela Rua da Batalha. Vire à esquerda na Rua Morais Sarmento, vulgarmente designada por “rua que sobe”, já que esse é o sentido do trânsito. Nós vamos descer. À esquerda, encontra-se a Sociedade Filarmónica e Recreativa 1.º de Janeiro e, mesmo em frente, um dos ex-libris de Castro Verde: uma grande e insólita casa do século XIX que deita as suas extraordinárias traseiras para a Rua Fialho de Almeida, ou “rua que desce”. Concebida e mandada construir nos anos 20 pelo lavrador Álvaro Romano Colaço, corresponde a uma certa “febre do betão” e à descoberta de todas as potencialidades que este material relativamente novo oferecia.

Há janelas e portas neo-góticas, neo-manuelinas e neo-árabes. As intrigantes torrinhas e varandas a subir e descer destinavam-se a ser envidraçadas e servir como grandes gaioas. No interior, há fontes, vitrais, clarabóias e excelentes exemplos de “fingidos”, ou seja, cimento a fingir mármore, a fingir madeira, a fingir apainelados. Diz-se que o fingidor trabalhou durante mais tempo do que aquele que durou a construção da casa, mas conseguiu provar que o cimento pode ser qualquer outra coisa.