sexta-feira, abril 16, 2021

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

 ,

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS.

RECORDAMOS, UM GRANDE POETA

DE ABRIL, PARA QUEM NÃO HAVIA

TABUS NEM MEDOS.




.

Poeta Castrado, Não!


Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo dromedário

fogueira de exibição

teorema corolário

poema de mão em mão

lãzudo publicitário

malabarista cabrão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!


Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:

ternura como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que se partisse

me alagaria de pena;

e também uma alegria

uma coragem serena

em renegar a poesia

quando ela nos envenena.


Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala

é tão vulgar que nos cansa –

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?


Do frio não reza a história

a morte é branda e letal –

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?


E o resto não pode ser

o poema dia a dia?

um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer

parido por asfixia?

Ah não me venham dizer que é fonética a poesia!


Serei tudo o que disserem

por temor ou negação:

Demagogo mau profeta

falso médico ladrão

prostituta proxeneta

espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem

Poeta castrado não!