quinta-feira, abril 19, 2012

CRÓNICA DO COLÓQUIO SOBRE "CANTE ALENTEJANO -ASPECTOS DA SUA PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO"

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O CANTE ALENTEJANO É UM MOMUMENTO DA CULTURA
ALENTEJANA, DAÍ TER SIDO NATURAL, QUE TENHA
SIDO OBJECTO DE DEBATE NO DIA MUNDIAL DOS
MONUMENTOS E SÍTIOS, QUE TEVE LUGAR NA VILA
DE ODEMIRA.


A CASA DA PRIMAS este lá, isto é ,tive o previlégio de ter estado no Cineteatro Camacho Costa em Odemira, e ter aprendido bastante sobre o cante, o seu significado, a sua preservação, e o modo de transmissão às gerações mais jovens, que serão o futuro da tradição.



Na primeira parte do Programa, actuaram vários grupos corais do Concelho a começar com o GRUPO CORAL DE ODEMIRA,


que recolheu bastos aplausos da plateia

Também do Concelho de Odemira subiu ao palco e actuou o GRUPO CORAL FEMININO DE AMOREIRAS GARE, onde pontuam algumas vozes de grande qualdiade.




Ainda do Concelho, actuou o GRUPO CORAL DE VILA NOVA DE MILFONTES. de que não tenho imagens ,por as mesmas se terem editado gralhadas. Estou a tentar remediar o problema e prometo ainda publicá-las ,logo que seja possivel a sua recuperação.

Iniciou-se então ,o Colóquio propriamente dito, com o vereador da cultura da Câmara Municipal de Odemira, Helder Guerreiro, a apresentar o Colóquio e os convidados.



Antero Silva, Pedro Mestre e Jose Francisco Colaço Guerreiro.

Coube a este ultimo dar inicio ao Colóquio , subordinando a sua intervenção ao tema: A EXPERIÊNCIA DA "MODA", NA PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO DO CANTE:

Por questões de viabilidade técnica ,vou dividir a sua intervenção em 5 suportes em vídeo:


Começou o orador por identificar o cante como um monumento, como património que acampanha cada alentejano vida fóra, e que transporta consigo ,quando ,na necessidade de partir para outras terras procurando vida para os seus,vem a lembrar-lhe a sua terra e a servir de promoção da mesma perante as gentes de outras regiões e países.

Falou da consciência de que só há cante por que existem grupos corais que o interpretam, da importância destes e da ligação estreita do cante à vida real rural e à natural inclinação de cada alentejano para vercejar.


Cantava-se na ida para o trabalho e no trabalho,e era o cante que animava e aliviava a dureza do mesmo, fazendo parte do ADN de cada um dos alentejanos, autêntica labareda cultural que marca e acompanha cada um por toda a vida.
E não era necessário mais que o cantar em grupo, de homens e mulheres, para que , mesmo sem flauta ou acordeon, se pudesse dançar ao som do cante,e dos seus cantadores de improviso .
Mas vêm as transformações técnicas no processo rural, surgem os tractores as máquinas, e o silêncio dos campos, caldo de cultura necessário para se poder cantar, rompe-se, e o ruído da modernidade mata o cantar na faina.
Segue-se o declinio do cante enquanto vivência diária, a castigar mais as mulheres que passam a se confinam à casa, não vão aos cafés, às tascas, as mulheres ,na época, era socialmente de bom tom que deviam permanecer em casa. Já os homens, esses,passam a cantar nas tabernas, nos cafés e mesmo nas ruas, e aí continuam a cantar em grupos hadhock.

E quando nos anos 40, começaram a formar-se grupos corais, sucedâneo do cantar nos campos, na faina, só homens formaram esses grupos,. Não havia mulheres.

Havia até quem afirmasse que as mulheres nunca tinham cantado.
E vai-se ter de se esperar pelo 25 de Abril, para se ver surgir os primeiros grupos de cante de mulheres.
As mulheres ,com o advento da liberdade recem conquistada, e com uma nova forma de estar em sociedade, começam a convencer-se que terem capacidade de cantar igual à dos homens e num curto espaço de tempo,começam a nascer grupos femininos como cogumelos depois da chuva.
Em sentido contrário os grupos masculinos envelhecidos, começam a sentir dificuldades em se manterem, face ao desaparecimento de seus elementos.

E espaços para cantar começam a escassear, é então que surge a ideia de promover encontros de grupos corais, que se processam com convites cruzados ,passando então a surgir as saídas de terra em terra,cinco, seis grupos por encontro, chegando ao ponto de começaremn a admitir mulheres a cantar e a surgirem grupos mistos, o que, curiosamente , vem recriar por caminhos improváveis a situação que historicamente existia nos campos antes da mecanizaçãio da lavoura.

Durante algum tempo o sistema funcionou ,mas como à medida que vai aumentando o número de grupos em cada encontro ,as condições no terreno vão-se degradando, com os cantadores a sentirem menos motivação para participar por não se sentirem apoiados.



Começa pois a sentir-se a necessidade de se dar um salto qualitativo e de renovar um modelo já esgotado.

E esse passo poderá estar, estará decerto, num apoio efectivo dos Municipios,que através da constituição de grupos de trabalho com os grupos corais,constituiriam um plano de salvaguarda, assumindo um compromisso de suporte logistico daqueles ,assumindo estes, a responsabilidade de cantar cumprindo determinadas condições, onde a disciplina de ensaio e a forma de se apresentar em espectáculos, seriam algumas das obrigações.
Assim ,poderiamos garantir que o momumento (o cante) nunca se degradaria.

O orador que se seguiu foi Pedro Meste ,que dissertou sob o tema: TRANSMISSÃO DO CANTE, ASPETOS DA SUA IMPLEMENTAÇÃO NO TERRENO"


O Pedro historiou a forma como desde muito pequeno se interessou pelo cante, primeiro na sua familia ,onde todos cantavam, depois escutando as modas no Programa Património, ingressando no grupo coral infantil Os Carapinhas, mas escutemo-lo.


Em 2006, Pedro Mestre, elaborou um plano de ensino de cante nas escolas, a pensar no futuro ,preocupado pelo envelhecimento dos elementos dos grupos e no ignorar da tradição pelas novas gerações. apresentando-o às autarquias


Aceite ,primeiramente pela autarquia de Almodôvar ,e posteriormente pela de Serpa , Pedro Mestre iniciou no ano lectivo de 2007 o ensino do Cante nas escolas, e passados 4 anos , começa a ser já evidente o êxito do projecto,.

Por fim , o tema "GRUPOS CORAIS EM ODEMIRA" foi exposto por ANTERO SILVA,

que historiou o que tem sido feito na região, e da necessidade de melhor organização dos grupos existentes, do aumento do número dos elementos de cada grupo e da necessidade de prestigiar e dar força à figura do ensaiador, sucedânio do antigo mestre, e na sua importância no disciplinar dos métodos de ensaio e de apresentação com dignidade em público.

Numa 3ª.parte subiram ao palco 2 grupos convidados de grande qualidade,o Grupo Coral Etnográfico da Academia Sénior de Serpa e o Grupo Coral do Sindicato dos Mineiros de Aljustrel, e por ultimo ,o grupo Coral de São Luis de Odemira, este por não ter chegado a tempo de ter actuado na 1ª.parte destinado aos grupos de Odemira.

O Grupo Coral da Academia de Serpa, ensaiado pelo Pedro Mestre foi para
mim ,que o vi e ouvi pela primeira vez, uma surpresa e um deleite.
Há muito que não via e ouvia um grupo ,tão recente no tempo, a cantar com tanta qualidade e a apresentar-se com tanto rigôr no trajar. Soberbo

Foram muito aplaudidos e com muito merecimento.



Depois veio o já há muito considerado um dos grupos de maior qualidade do país, o Grupo Coral do Sindicato dos Mineirtos de Aljustrel.



que com a excelência a que nos tem habituado, fez perpassar pela sala a

emoção de quem sente a verdade do cante alentejano e do seu poder encantatório

entoando o famoso Hino dos Mineiros,

Por fim subiu ao palco o Grupo Coral de São Luis, ternurentamente acarinhado pela sala.



Como é habitual num final de Colóquio, foi dado ao público presente a faculadde de intervir , e expôr o que lhe ia na alma:




A festa continuou já depois do espectáculo, agora no período dos petiscos, com os elementos dos Mineiros de Aljustrel a animarem com as modas cantadas por todos, , lamentando não as poder apresentar , pois esgotei todas as baterias e memórias que havia levado para a cobertura deste evento.

Foi uma tarde fantástica, em que muito aprendi sobre o cante alentejano e as suas circunstâcias.