terça-feira, agosto 05, 2014

RECORDANDO 0 I ENCONTRO DE VIOLAS DE ARAME EM CASTRO VERDE

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HOJE, A CASA DAS PRIMAS RECORDA UMA
CRÓNICA AQUI PUBLICADA, DO I ENCONTRO
DE VIOLAS DE ARAME, REALIZADO EM 2009
EM CASTRO VERDE NO ÂMBITO DO FESTIVAL
MEDITERRÂNICO, SETE SÓIS SETE LUAS.

Eis pois a crónica que então publiquei:

"OFICINA DE VIOLAS DE
ARAME, UM EVENTO DE
EXCELÊNCIA NO PROGRA-
MA DOS "SETE SÓIS"

A matéria da crónica de hoje sobre os "Sete Sóis" versa sobre, o que foi para mim, o evento mais conseguido, mais completo, mais eficaz, do ponto de vista das consequências para o futuro, que foi o Encontro de violas de arame, ou a designação escolhida para o Programa dos "Sete Sóis", o de "Oficina de Violas de Arame".

A viola portuguesa chegou aos nossos dias sob várias designações, tais como: Braguesa,Ramaldeira,Amarantina,Toeira,de Arame,da Terra,Campaniça e até mesmo a Caipira de Minas Gerais.

A Oficina de Violas decorreu na Antiga Fácrica de Moagem Prazeres e Irmão, durante 3

dias,numa organização da Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções Culturais integrado na Programação dos Sete Sóis.

PEDRO MESTRE DANDO INICIO À "OFICINA"

No primeiro dia, isto é Sexta feira ,11, quando lá cheguei, e fui dos primeiros, confesso que não me tinha ainda apercebido ,nem preparado, para a dimensão do que ia encontrar, vêr e ouvir.


Em duas mesas uma vasta documentação sobre a "Oficina", sobre violas campaniças, notas biográficas sobre os participantes, chaves de afinação das várias violas, enfim, a eficácia da organização da "Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções" a tender para a plenitude...



Na pequena sala da "Fábrica", juntaram-se, nada mais,nada menos, que os maiores tocadores de viola "strictu sensu", seja de arame,braguesa,campaniça,da terra e caipira.

Salvo o exagero, este encontro de Castro Verde na "Fábrica", significou para a viola de arame em sentido lato, o que Nashville e o Big Ole Opry nos Estados Unidos, significou e ainda significa para a coutry music nos States.

Naqueles pequenos metros quadrados da antiga fábrica de moagem em Castro Verde, tivémos juntos a tocar e a trocar ideias, virtuosidades e dicas para o futuro, tocadores como: Mestre Manuel Bento,Pedro Mestre,Amilcar Martins da Silva e Márcio Isidro pela viola campaniça alentejana, Vitor Sardinha pela viola de arame madeirense; Rafael Costa Carvalho pela viola da Terra dos Açores e José Barros pela viola Braguesa de Braga.

A metodologia escolhida para o evento, foi a de estender pelos 3 dias a exposição oral e execução prática nas suas violas ,dos tocadores das 4 violas em análise.

Assm, no primeiro dia assistimos à exposição oral dos dois tocadores que vieram das ilhas: O Rafael Costa Carvalho dos Açores , e o Vitor Sardinha da Madeira.

O primeiro foi o Rafael, que nos falou sobre a viola da terra, contando a sua

história, descrevendo a sua composição física, explicando a simbologia das suas

marcas e adereços, enquanto dedilhava exemplificando as técnicas de execução.

Ficámos a saber que a Viola da Terra terá surgido nos Açores na segunda metade do século XV, levada pelos primeiros povoadores.

A Viola da Terra que também é conhecida por Viola de Arame, ou Viola dos Dois
Corações, era, e é, acompanhante natural de todos os cantares festivos,balhos,derriços,desgarradas, desafios e despiques, e também dos devaneios sentimentais, líricos e amorosos.

Por entre risos o Rafael esclareceu ainda que a viola da terra tem um espelho embutido entre a cabeça e a escala, que , explicou, deriva da vaidade dos tocadores açoreanos, que quando se ausentavam de casa para tocar em festas e balhos pernoitando fóra, utilizavam o espelho para se barbearem.

De palavra fácil, discurso escorreito, o Rafael foi explicando que os 2 corações que configuram a boca da viola da terra, simbolizam a saudade do coração que parte, que emigra e a saudade do coração que fica. Os dois corações estão ligados por um cordão umbical a uma lágrima, a lágrima da saudade.
A lágrima tem a forma de um ás de oiros que representa a busca da fortuna, afinal, o objectivo dos emigrantes .

Ao entrar na fase da execução, o Rafael salientou aquilo que faz a principal diferença na técnica utilizada pelos tocadores açoreanos - a utilização do polegar - tocando alguns trechos com grande virtuosismo, arrancando os aplausos conhecedores da sala.


O segundo tocador da tarde do primeiro dia foi o madeirense Vitor Sardinha, que nos veio apresentar a viola de arame.

A viola de arame é a viola da Ilha da Madeira.
Tal como o Rafael, o Vitor Sardinha é também professor de viola ,ele no Conservatório de Música da Madeira, e por isso também habituado a falar em público, revelando-se também ele, um grande comunicador.


Vitor Sardinha esmiuçou também ele a sua viola, integrando-a no grupo mais lato da viola portuguesa.
Instrumento com 9 cordas, com uma afinação do agudo para o grave na sequência ré-si.sol.ré.sol .
Salientou a importância da localização geográfica da Ilha da Madeira, com o seu porto Atlântico e a emigração insular a influenciar decisivamente o toque, os sons e e o timbre da viola de arame madeirense.
Mais perto de Africa e das Canárias do que do Continente, do qual esteve aliás ,longe, aquando da ocupação inglesa, e com uma forte ligação maritima com o Brasil, e Cabo Verde, a viola madeirense bebeu muito das influências tropicais e africanas.

Ficámos ainda a saber que a viola de arame madeirense é o instrumento predilecto para acompanhar as charambas, as mouriscas, o bailinho e o baile da meia volta, este ultimo do Porto Santo.

E Vitor Sardinha passou à execução igualmente virtuosa e dialogante que a todos prendeu, arrancando os aplausos entusiasmados da sala.



No final, do dia, os presentes foram convidados a empunhar as suas violas, e numa

roda de tocadores, onde além dos quatro conferencistas figuravam mestres como Manuel Bento, Amilcar Martins da Silva, Marcio Isidro e outros.

Foi um momento alto da tarde.


No segundo dia da Oficina, voltei à velha sala da`"Fábrica".

Voltaram os dois tocadores insulares a enriquecer o nosso conhecimento, com mais detalhes sobre as suas violas, e a sua arte.

Seguiu-se a primeira apesentação do tocador José Barros a "defender" a sua viola, a braguesa.


Neste segundo dia, houve maior diálogo com a sala, com oportunas intervenções do Prof. Domingos Morais, que ajudaram a preencher lacunas do conhecimento no que concerne às violas.


Ficámos a saber que a viola braguesa é um instrumento popular do noroeste português entre o Douro e o Minho, sendo indispensável nas rusgas minhotas, nas chulas e desafios, as formas músico-instrumentais dominantes na região..

José Barros defendeu com veemência e muito humôr a "superioridade" da braguesa face às irnãs presentes (risos) ,demonstrando na execução que com a braguesa se toca tudo o que existe e o que se quizer.

Tal como na tarde do dia anterior, chegou depois a apetecida roda de tocadores,

soltaram-se os talentos e no ambiente familiar com que sempre decorreu a "Oficina", aconteceu uma festa dos sentidos.






No final dessa tarde , os quatro magnificos tocadores das quatro violas actuaram no Jardim do Padrão, num evento do qual falarei postermente.

No ultimo dia, os dois tocadores das ilhas e o José Barros concluiram as suas intervenções com brilho , e ainda maior virtuosismo.

O Rafael diria no final da sua intervenção que ainda não tinha partido e já tinha saudades de Castro Verde, e disseo com emoção.

Também eu, no decorrer da parte final da roda de tocadores, que como habitualmente

se seguiu ,me apercebi , já ter saudades daqueles momentos mágicos que naquela sala passei, a ouvir os magos da viola de arame.
Têm de voltar.
Prometam!"