domingo, março 21, 2010

21 DE MARÇO, DIA MUNDIAL DA POESIA NO NOSSO BLOGUE

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O NOSSO BLOGUE COMEMORA HOJE O DIA
MUNDIAL DA POESIA COM POEMAS DA
POETISA ALENTEJANA FLORBELA ESPANCA
E DE AUTORES CÁ DA CASA.
O ALENTEJO É O ESPAÇO CERTO PARA
SE COMEMORAR O DIA MUNDIAL DA POESIA,
POIS, CADA ALENTEJANO É UNM POETA
POTENCIAL.

"O Dia Mundial da Poesia celebra-se a 21 de março, foi criado na XXX Conferência Geral da UNESCO em 16 de Novembro de 1999.[1] O propósito deste dia é promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia através do mundo"

Para comemorar o Dia Mundial da Poesia a 21 de Março…«Ser Poeta» de Florbela Espanca…
Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»

Agora lugar aos poemas das nossas poetisas e poetas da Casa das Primas:

A começar um poema dedicado pelo poeta Alves da Costa
a:

PAINÉIS DA FEIRA DE CASTRO

Castro amanhece e vai pró rodopio
e envolto em pó, em chuva, ou frio
-É mistério que não descubro...?
Mas, é no terceiro domingo de Outubro..

Música estridente vem do carrocel
mulas,ciganos correm em tropel
cheira a castanhas, a coiro e calçado,
a peros,a figos e a polvo assado..

Surgem na vila mil caras estranhas:
senhoras, meninas,figuras bisonhas
"Ti Manel" Francisco de calça de veludo
e a "Ti Umbelina" que parece um "entrudo"

Lá na corredoura tem barraca armada
"Ti Chico algarvio" que veio de jornada
vende vinho branco, vende medronheira
e canta a despique mais a companheira

Venha cá seu moço, não se faça caro..
Vou já amanhã para a feira de Faro..!
Dê-me cá um beijo, mostre que é machão
Não me erre o alvo no tiro de canhão..

Descascando um pêro, de faca na mão
Diz "Manel" Francisco, vindo de Mourão:
-Vem aqui a "guarda",fica resolvido.
Nada de cortagem e o macho é vendido

Lá vão dois ciganos e um de Baleizão
vão dando chicote num potro lazão.
De peliça ao ombro, guarda chuva ao lado
marchante já velho está com ar cansado

"Moiral" de pelico, vindo por atalhos
está acocorado perto dos chocalhos;-
Dá-lhe pancadinhas, vê se o bronze é bom
Compra três esquilinhas, enche-as pelo "tom"

"Ti Chico Simão", "Ti Manel Henrique"
"Ti Manel Jaquim","Ti Zé Vinagreiro"
Esgotaram o ponto no canto do despique
Vão-se já embora, vão pr'ó Carregueiro

"Ti .Mari.Vitóira" vai mais a sobrinha
Filha da "Gertrudes" que é sua cunhada
Enfeirou um prato mais uma jarrinha
Que vão ser um luxo na "casa d'entrada"..!

Já está desarmando o "Manel" tendeiro
Vai juntando a copa o "Pedro" cigano:
carrinha ,muares, burros de espojeiro,
Acabou a feira. -Voltam para o ano.

Poema de ALVES DA COSTA


TENHO SAUDADES DO MEU ALENTEJO.
..
Tenho saudades
Do meu Alentejo
Todo florido
É como eu o vejo

O cheiro a esteva
A urze também
E o rosmaninho !!
O cheiro que tem

A branca margaça
O pimpilho dourado
E com as papoilas
Ficava encarnado

E os passarinhos
Entre o arvoredo
Com os nossos gritos
Fugiam com medo

Com seu papo branco
A negra andorinha
Construia o ninho
Onde os filhos tinha

Corria a ribeira
D.água cristalina
Lavavam a roupa
Mesmo a mais fina

Era lindo vêr
A roupa a corar
A ouvir a rã
Na rocha a cantar

A cegonha branca
Andava a pescar
O peixe de prata
Pr.ó flho sustentar

O rebanho ia
A sede matar
Estava calôr
Ia-se acarrar

Poema de Maria Alice Colaço
(Monte da Ribeira)


e do ANTÓNIO JOSÉ COLAÇO:

Poema dedicado pelo António
à mãe, FELICIDADE LÚCIA,
quando estava na recruta
no serviço militar, em
Lisboa:.
.
Nas serras a caminhar
e sem poder descansar
mãezinha do coração
caminhando no escuro
fosse mole ou fosse duro
mãezinha não tinha pão.
.
Fome e vontade de dormir
sem roupas para me cobrir
minha mãe o que eu passei
andadando a restejar
ouvindo as balas cantar
ó mãe de ti me lembrei
.
Dentro do acampamento
onde estava o mantimento
para nos alimentarmos
mas foi grande o sofrimento
nós dormimos ao relento
sem roupa para nos taparmos
.
Ouvi estoirar as granadas
eu caí em emboscadas
na frente de metralhadoras
e junto a colegas meus
eu só tinha esperança em Deus
e na Virgem Nossa Senhora
.
Andando léguas quase dez
e com tanta dôr nos pés
minha mãezinha adorada
abalámos às nove horas
nunca tivémos demoras
chegámos de madrugada.
.
Minha bela mocidade
na flôr da minha idade
estou metido na prisão
minha sorte foi ruim
não quero que chore por mim
mãezinha do coração.
.
Tenho tanta saudade
deixar a velha unidade
e voltar à minha vida
logo há-de chegar o dia
de ir para a sua companhia
ó minha mãezinha querida.
.
Também temos uma pista
que nos faz perder a vista
minha mãezinha adorada
e quando nós lá passamos
logo todos pensamos
que temos a morte chegada.
.
Nas ruas da cidade
caminhando com velocidade
ó minha mãezinha querida
por ser grande o movimento
às vezes em pouco tempo
alguns perdem a vida.

Poema escrito em 1961
ANTÓNIO JOSE COLAÇO
(Monte da rIBEIRA)

a SEGUIR UM POEMA DA "PRIMA" NATÉRCIA:

Alentejo na Primavera
é lindo, cheio de flores
azuis, roxas, amarelas
eu sei lá de quantas côres.
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Seja Outono ou Primavera
quer seja Inverno ou Verão
Alentejo tem beleza
numa qualquer estação.
.
Vejam lá que bem que cheira
a flôr do rosmaninho
do poejo e do mantrasto
que se encontra no caminho.
.
E que bonito é vêr no campo
os rebanhos a pastar
o pastor com o seu cajado
e o cão para ajudar.
.
Alentejo tu és lindo
tens beleza, tens encanto
tu tens tantas maravilhas
por isso te queremos tanto.
.
E quando chega o Verão
todo o campo está dourado
já está o trigo maduro
à espera de ser ceifado.
.
É bonito de manhã
ouvir-se muito cedinho
aquele cantar tão lindo
como é o do passarinho.
.
E os grilos cantam, cantam
até essa noite fóra
e depois começa o galo
assim ao romper d.aurora
.
Quem vive numa cidade
não pode avaliar
todas estas maravilhas
que aqui estou a falar..

Poema de
NATÉRCIA MARIA
(Dotesta)

Também eu me atrevi a rabiscar uns versos, aquando da Semana de Castro Verde no Feijó:

CASTRO VERDE NO FEIJÓ
..
.
CASTRO VERDE NO FEIJÓ
..
Houve festas no Feijó
celebrou-se o Alentejo
Castro Verde deu o nó
com os seus filhos do Tejo
.
Com o rio aqui tão perto
as gentes do sul cantaram
no seu sotaque lento e certo
e a toda a gente encantaram
.
De Castro vieram cantoras
poetas e tocadores
teatro de amadoras
suas vidas, seus amôres
.
Ao som das campaniças
belas modas se cantaram
o fabrico de chouriças
as veteranas mimaram
.
A vida real recordaram
do palaíto aos sobreiros
e todos se emocionaram
com o hino dos mineiros
.
"Morreram, quatro mineiros"
até a pele se eriçou
"vêjam lá companheiros"
o Alentejo está aqui, chegou!!!
.
JOSÉ JÚLIO
(Lisboa e Castro Verde)

O Zé Arsénio tsmbém já fez poesias para ao seu Alentejo:

QUADRAS SOLTAS
(AO Alentejo)

Alentejo...Alentejo
As costas te vou virando
minha boca vai sorrindo
meu coração vai chorando
.
Ceifeira que andas à calma
à calma ceifando o trigo
tem cautela não ceifes
o sonho que trazes contigo
.
Alentejo...Alentejo
onde a loira espiga dança
desde a charneca à campina
muitas marés de esperança
.
Não há poeta que diga
por muito que dissesse
cantar o Alentejo
de tudo o que ele merece
.
Se fôres ao Alentejo
não leves vinho nem pão
leva teus braços abertos
para abraçares teu irmão.
.
Poema de ZÉ ARSÉNIO
(Castro Verde e Torre da Marinha)

Segue-se um poema do ZÉ BATISTA COLAÇO ,dos Porteirinhos a viver na Reboleira

PORTEIRINHOS
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Poema de José Batista Colaço

PORTEIRINHOS
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Porteirinhos tu tens magia
Com os teus poços velhinhos
e uma velha moradia
onde as cegonhas fazem os ninhos.
.
Logo que o Inverno passa
na empena do sobrado
ficas com beleza e graça
com o teu velho moinho ao lado.
.
Teu lavadouro enquadrado
no cerro dos Poleirais
com o pèzinho caiado
as tuas ruas são roseirais.
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De rosas brancas e vermelhas
crescendo junto à parede
onde de dia as abelhas
tiram o suco pra matar a sede.
.
Com tuas belas hortas
junto à cerca do Boi Coxo
de noite nas horas mortas
ainda ouvimos cantar o mocho.
.
Se o vento sacode as fragas
de noite a coruja mia
lá no meio das azinhagas
Porteirinhos tu tens magia.

Zé Batista
(Porteirinhos)